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Publicado em: 18/08/2014

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INFLAÇÃO OU DEFLAÇÃO? - Qual o cenário atual e como se proteger

Apesar do arrefecimento dos índices inflacionários, ou até queda, o Brasil está longe da deflação - que se caracteriza por variação negativa por maior período de tempo. Especialistas apontam como agir nestes cenários

Apesar da desaceleração da inflação oficial, que ficou em 0,01% no mês de julho - com queda de 0,17 em Fortaleza – especialistas apontam que o cenário ainda não é de deflação. A baixa nos preços, também registrada pelo Índice Geral de Preços (IGP-10) nos primeiros dias de agosto pela Fundação Getúlio Vargas, é considerada indicativo de arrefecimento da inflação conforme apontam. Para entrar num cenário de deflação, os índices devem ficar negativo por período maior de tempo, cerca de três meses.

Neste cenário, a recomendação é de atenção às contas e ao endividamento. É o que avalia Anderson Passos Bezerra, economista do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE). Ele alerta que num futuro próximo a tendência continua a ser de altas no preços, incluindo itens básicos como energia e água, entre outros.

Portanto, procurar não se endividar é o que recomenda Ênio Viana de Ârea Leão, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibefce). “Investir no tesouro direto, em NTN-B, ou no LCI do banco, por exemplo, são os mais indicados para o momento”. Ele conclui que, com a corrosão do valor do dinheiro, a compra de bens mais caros devem ser pensadas desde já.

Já o professor de Mercado de Capitais da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Eleutério, acrescenta que aplicar em títulos do tesouro pós-fixados, como LFT, são algumas das medidas para quem quer se proteger e, ao mesmo tempo, investir durante o período inflacionário.

Deflação

Para entender o que significa deflação, Almir Bittencourt, professor do Centro de Aperfeiçoamento de Economistas do Nordeste da Universidade Federal do Ceará (Caen-UFC), explica que ela ocorre quando há uma queda generalizada de preços, não apenas de um índice. “É quando toda a economia começa a ter um conjunto de seus preços num ritmo consistente de queda. O fato de haver queda ou alta não significa uma deflação. Três meses de queda no produto bruto da economia é que indica o quadro”.

 No Brasil, a deflação não é esperada pelos especialistas. Porém, neste cenário, segundo Ênio, os brasileiros deveriam se preparar para proteger seu patrimônio, pois com os valores caindo, eles podem se desvalorizar. “Neste caso, o consumidor deve postergar suas compras porque os preços vão cair cada vez mais”.

Durante uma deflação, Ricardo indica o investimento em aplicações pré-fixadas, que não desvalorizam com a queda da inflação e dos juros. “A poupança, como é pré-fixada, seria um bom investimento. Além de algumas aplicações do tesouro direto”.

Dicionário

Nota do Tesouro Nacional – série B (NTN-B): Título com rentabilidade vinculada à variação do IPCA, acrescida de juros definidos na compra.

Letra Financeira do Tesouro (LFT): Título com rentabilidade diária vinculada à taxa de juros básica da economia (taxa média das operações diárias com títulos públicos registrados no sistema Selic).

Letra de Crédito Imobiliário (LCI): Título de renda fixa emitido com base em lastro de créditos garantidos por hipoteca de bens imóveis.

Nota do Tesouro Nacional – série F (NTN-F): Título com rentabilidade prefixada, acrescida de juros definidos na compra;

Letra do Tesouro Nacional (LTN): Título com rentabilidade definida no momento da compra.

 Saiba mais

O IGP é a média aritmética ponderada de três outros índices de preços. São eles:

• Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA),

• Índice de Preços ao Consumidor (IPC),

• Índice Nacional de Custo da Construção (INCC).

Os pesos de cada um dos índices componentes correspondem a parcelas da despesa interna bruta, calculadas com base nas Contas Nacionais – resultando na seguinte distribuição:

• 60% para o IPA,

• 30% para o IPC,

• 10% para o INCC.

 Fonte: Ibre - FGV

 Serviço: Acompanhe os índices inflacionários

IPCA: http://bit.ly/1fkvYkV

IGP: http://bit.ly/1lsYXRF

 

CRESCIMENTO - Um pouco de inflação não faz mal, dizem especialistas

A professora da Faculdade de Economia da UFC (Feaac), Inez Silvia Batista, esclarece que o ideal seria a estabilidade de preços e que tanto a inflação quanto a deflação são aspectos negativos. “Tem economistas que dizem que um pouco de inflação é normal para o de crescimento”.

No Brasil, como taxa de juros voltou a bater os 11%, o economista Anderson Passos acredita que está muito longe de ocorrer uma deflação no País. “Pode ser que ocorra uma redução de preços, mas deflação eu não aposto”.

A deflação é cenário mais próximo ao de países como Portugal, Espanha e Japão. Segundo o economista Almir Bittencour a deflação nestas e em outras regiões ocasiona desemprego e diminuição do consumo. “Ainda há deterioração das condições econômicas, queda de impostos, menos arrecadação e menos demanda por serviços de infraestrutura”.

Como o brasileiro tem uma cultura de consumo, a tendência do País é se voltar para a inflação. No caso do Japão, com cultura de poupança, a tendência é de deflação, conforme Anderson.

Portanto, o que ocorreu no Brasil com a deflação de preços apontada pelo IGP-10 foi uma queda no ritmo da inflação, segundo Almir. Na avaliação dele, o pior cenário seria o da estagnação: que combina inflação com desemprego.

“Agora, inflação fora de controle também é extremamente danoso porque a inflação é o tributo mais regressivo que existe”. Ele lembra que nos anos 1970 o País teve uma combinação de inflação com recessão. “Foi uma situação incomum, mas muito perigosa”. A “estaginflação” era apontada como o momento brasileiro até o mês passado, antes de a inflação em 12 meses voltar a meta de 6,5% ao ano.

 

Repórter: Beatriz Cavalcante

Fonte: Jornal O Povo