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Publicado em: 16/07/2014

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COOPERAÇÃO - Chefes de Estado revelam sugestões para o futuro

Associação de energia, escola de idiomas e até universidade ligada ao Brics foram sugeridas ontem pelos líderes

Presentes em Fortaleza ontem para a VI Cúpula do Brics, os chefes de Estado da Rússia, Índia, China e África do Sul não deixaram o Centro de Eventos do Ceará sem dar sugestões sobre o que pode ser feito para melhorar a relação entre os países que compõem o grupo, que também inclui o Brasil. O presidente russo, Vladimir Putin, por exemplo, defendeu a criação de uma associação no setor de energia para aumentar a segurança do setor nas nações emergentes.

"Poderíamos criar uma associação de energia entre os Brics. Acredito inclusive que poderiam ser criados um banco de reserva de combustíveis e um instituto para segurança energética", afirmou Putin, durante a Sessão Plenária da VI Cúpula do Brics.

Em seu pronunciamento, o presidente da Rússia também elogiou a criação do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), dizendo que o mesmo "se tornará um dos maiores agentes financeiros do mundo". Sobre o encontro de hoje com líderes sul-americanos, em Brasília, Putin ressaltou que "isso dá prestígio internacional à nossa organização, a exemplo do que aconteceu na Cúpula passada, quando estivemos com representas africanos".

Escola de línguas

Participando pela primeira vez de uma Cúpula do Brics, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, sugeriu a criação de uma escola de idiomas do Brics, onde alunos dos cinco países poderiam aprender as línguas das respectivas nações. "O Brics precisa contribuir para o desenvolvimento dos outros emergentes e acredito que a nossa juventude terá um papel de liderança nesse aspecto. Por que não criarmos também uma universidade, onde possa haver intercâmbio cultural entre nossos jovens? Seria excelente para o futuro", disse.

Narendra Modi disse também que o Brics deve ter como um de seus objetivos centrais o combate à pobreza em seus respectivos países, "promovendo, assim, um crescimento inclusivo nas nossas nações e no mundo como um todo". Para o líder indiano, o fato do grupo representar quatro continentes dá a ele uma responsabilidade a nível global.

"Espero que tudo que colocamos aqui possa evoluir de forma concreta, pois o mundo se encontra em um alto nível de turbulências econômicas e políticas, com conflitos crescendo em diversas partes do globo. Eu acredito, porém, que o Brics pode ser a solução para diversos aspectos, contribuindo para a promoção de um mundo mais estável. Áreas como segurança alimentar, por exemplo, têm de ser observadas com atenção", afirmou Modi.

Mercado mais integrado

Quarto chefe de Estado a se pronunciar na Sessão Plenária, o presidente da China, Xi Jinping, disse que deseja ver um mercado mais integrado entre os países que compõem o Brics. De acordo com ele, "pode haver uma maior cooperação econômica entre as nossas matérias-primas, por exemplo. Somos países riquíssimos em recursos, que podem ser um diferencial para nós e também para os países parceiros".

O líder chinês também falou sobre a desaceleração econômica que os países do Brics vêm passando nos últimos anos. Para ele, o resultado é normal, pois "não é possível crescer muito sempre". "O que é preciso buscar é a estabilidade, o crescimento sustentável. Trocar quantidade por qualidade", enfatizou.

Por fim, Jinping celebrou o fato da China ter sido, em 2013, o maior parceiro comercial de 128 países, o que, segundo ele, reforça a ideia de que a nação está aberta para relações exteriores. "Investimos US$ 11 bilhões em países estrangeiros e neste exato momento esse número está aumentando. O fato é que a China estima relações de crescimento mútuo e quer se desenvolver de forma pacífica com qualquer um que deseje mais igualdade para seu povo", ressaltou.

Fim dos conflitos

Em seu discurso, o presidente da África do Sul, Jacob Zuma, explicou que o desenvolvimento econômico do mundo nunca estará completamente estável enquanto houver conflitos no Oriente Médio, em especial entre Palestina e Israel. Segundo ele, "os países do Brics devem continuar a apoiar iniciativas para que as duas partes voltem a buscar soluções pacíficas para a crise".

Zuma também garantiu que "a África do Sul fará o possível para aumentar as oportunidades de comércio com os demais emergentes". "Vamos abrir nossos braços", complementou.

Sindicalistas querem atuar no banco do Brics

Fortaleza. Os líderes sindicais dos cinco países do Brics querem participar da gestão do Novo Banco de Desenvolvimento, que teve sua criação definida ontem, e terá capital inicial de US$ 50 bilhões. Sindicalistas de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (Brics) entregaram para a presidente Dilma Rousseff um documento que pede diretamente a participação dos sindicatos na direção do banco dos Brics.

O encontro entre as lideranças das seis maiores centrais sindicais brasileiras (CUT, Força Sindical, UGT, CTB, NCST e CGTB), as confederações de trabalhadores dos outros quatro integrantes do Brics e a presidente Dilma Rousseff teve peso histórico. A reunião de 25 minutos foi a primeira entre um dos presidentes ou primeiros-ministros do Brics e lideranças sindicais, que formaram, há dois anos, o Fórum Brics Sindical. Nas outras duas oportunidades, na China, em 2012, e na África do Sul, em 2013, os sindicalistas não foram recebidos por Xi Jinping e Jacob Zuma, respectivamente.

Os cinco países devem investir em inovação

Os presidentes dos bancos de desenvolvimento dos países que compõem o Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) se comprometeram a trabalhar no desenvolvimento de projetos voltados para a inovação tecnológica (Brics Multilateral Cooperation Agreement on Innovation). O acordo foi selado durante o 6ª Reunião de Cúpula do Brics, em Fortaleza.

Segundo o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, o foco dos projetos é a infraestrutura e energia sustentável; inovação de processos e produtos em diversas áreas da indústria, de serviços e do agronegócio.

Visa a ampliar também a cooperação entre os bancos de desenvolvimento dos países do Brics, além de procurar aumentar o comércio e os investimentos entre os cinco países.

No encontro, os presidentes de bancos de desenvolvimento destacaram a importância de trocar experiências bem-sucedidas na área de inovação, investimentos prioritários em economia emergentes.

O acordo tem validade de cinco anos e inclui iniciativas como o financiamento a projetos de inovação e de tecnologias emergentes, intercâmbio e expertise de financiamento à inovação e a possibilidade de cofinanciamento para o desenvolvimento nas áreas de interesse mútuo.

Luciano Coutinho negou a existência de estudos para uma linha especial de financiamento do BNDES para o leilão de 4G previsto para setembro.

Mercado Global

Também no evento de ontem, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, destacou que o Brics ocupa um lugar único na economia global, pois é o maior mercado do mundo. Os cinco países detém 21% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, informou, e continuará em crescimento nos próximos anos.

"Os nossos países desempenham cada vez mais um papel importante no cenário político mundial, graças ao papel assumido pela China e pela Rússia no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), quando prevenimos uma intervenção estrangeira na Síria e conseguimos o fim das armas químicas naquele país", disse Putin.

O presidente russo destacou também a influência que o grupo tem no G-20 (grupo das 20 maiores economias do mundo) e defendeu a reforma no Conselho de Segurança da ONU, no qual o Brasil pleiteia assento permanente.

Integrantes lamentam conflito na Ucrânia

O texto divulgado pelos líderes dos Brics ontem (15) expressou "profunda preocupação" com a situação na Ucrânia, mas, previsivelmente, se absteve de mencionar as ações da Rússia que provocaram a escalada do conflito e culminaram na anexação, por Moscou, da península da Crimeia. "Expressamos nossa profunda preocupação com a situação na Ucrânia. Clamamos por um diálogo abrangente, pelo declínio das tensões no conflito e pela moderação de todos envolvidos", afirmam os líderes de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul em sua "Declaração de Fortaleza".

No texto, os países ainda condenaram as "sanções econômicas em violação ao direito internacional", em alusão às punições econômicas impostas pelos EUA e pela União Europeia à Rússia, após a anexação - que também consideram ilegal. O texto afirma ainda que os Brics reiteram a "visão de que não há solução militar para o conflito e destacamos a necessidade de evitar a sua maior militarização".

Avenida Silas Munguba é fechada em protesto

Cerca de 100 pessoas de organizações sociais e movimentos presentes no encontro "Diálogos sobre Desenvolvimento: o Brics na perspectiva dos povos", que aconteceu simultaneamente ao encontro do Brics, em Fortaleza, se reuniram, no final da tarde de ontem, em uma caminhada pacífica que aconteceu ao longo da Avenida Dr. Silas Munguba, antiga Dedé Brasil.

O ato de rua, intitulado "Lutar não é crime: contra o Brics e a exploração capitalista", reuniu cerca de 100 pessoas e fechou uma das faixas da avenida, no sentido Castelão - Parangaba. Durante o percurso, os participantes entregaram panfletos e comunicados para a população.

A caminhada se concentrou em frente a sede da Secretaria Executiva Regional IV (SER IV) e terminou na praça da Serrinha. "O ato é no sentido de dar visibilidade a nossa articulação, dialogar com a sociedade civil, contrapor a esse modelo de desenvolvimento que vise o capitalismo", disse uma das organizadoras do evento, Mariana Lacerda.

Áquila Leite - Repórter

Fonte: Diário Online (Jornal Diário do Nordeste)