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Publicado em: 09/07/2014

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BRICS EM FORTALEZA - Brasil e Rússia buscam ter mais voz no mundo

Enquanto os russos buscam reconquistar a influência do período da União Soviética, o Brasil tenta se impor pela primeira vez. No campo comercial, as relações estão aquém do potencial

Sem fortes laços comerciais entre si, Brasil e Rússia, 7ª e 8ª economias do mundo, respectivamente, ficam atrás apenas da China entre os países que compõe os Brics, de acordo com o Produto Interno Bruto (PIB) nominal. No campo diplomático, a afinidade está na tentativa de obter maior participação nos organismos internacionais.

“A aproximação maior (entre os dois países) é pela necessidade de serem mais vocais no mundo”, diz o professor de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Nascimento. “Com o final da União Soviética, a Rússia passou por um período de muita estagnação econômica e perdeu a liderança que tinha. Agora ela tenta reconquistar esse terreno. Do lado do Brasil, que se tornou uma das maiores economias do mundo, há essa mesma necessidade, mas de se impor pela primeira vez”.

Para Nascimento, que é mestre em História pela Universidade Amizade dos Povos (Rússia) e doutor em Ciência Política pela Universidade de Columbia (EUA), Brasil e Rússia também têm em comum, o posicionamento contrário à hegemonia norte-americana.

Mas Nascimento não acredita que essa postura possa prejudicar a diplomacia brasileira com o resto do mundo ou com os Estados Unidos, segundo maior parceiro comercial do País. “O Brasil é muito cauteloso. Tem posições que se aproximam às da Rússia em combater a hegemonia americana, mas faz isso sem criar uma hostilidade”.

No campo econômico, o diretor do BRICLab da Universidade Columbia, Marcos Troyjo, professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), diz que dificilmente o Brasil será penalizado por suas posições geopolíticas. “Nesse assunto da tensão Rússia-Ucrânia, como em muitos outros, o Brasil se faz de tonto. Ainda assim, não será cobrado por potências ocidentais. É zero a influência da crise russo-ucraniana sobre a intenção do Brasil de tornar-se membro permanente do Conselho de Segurança (da Organização das Nações Unidas)”.

Papel geopolítico

Mesmo com uma menor população e uma economia menos diversificada que a brasileira, no campo geopolítico é inegável a superioridade da influência russa no mundo. Além de ter o maior território do planeta, e fronteiras com Europa e Ásia, a Rússia ainda detêm armas nucleares. Porém, Marcos Troyjo diz que, diferentemente do período da União Soviética, a Rússia não tem projeto global, economia dinâmica ou discurso ideológico. “Por isso, seguramente, não é mais uma superpotência. No entanto, suas robustas forças convencionais e pesado arsenal nuclear ainda fazem dela um superpoder.”

Quem vem a Fortaleza

Vladimir Putin, presidente da Rússia - Nascido em Leningrado em 7 de outubro de 1952, o presidente da Rússia, Vladimir Putin é ex-agente no Departamento Exterior e chefe dos serviços secretos soviético e russo, KGB e FSB respectivamente. Foi presidente da Rússia de 2000 a 2008, tendo sido primeiro-ministro em duas oportunidades, entre 1999 e 2000, e entre 2008 e 2012. Assumiu o atual mandato em 7 de maio de 2012.

SERVIÇO

Confira a programação do Brics

http://bit.ly/1plJF7d

Saiba mais

VI Cúpula do Brics em Fortaleza

O Brasil sediará, na próxima semana - dias 14, 15 e 16 de julho - a VI Cúpula dos Chefes de Estado e de Governo do Brics (grupo composto pelos países Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Os dois primeiros dias do encontro acontecerão em Fortaleza, enquanto o terceiro será em Brasília.

A principal discussão durante o evento será orientada pelo tema “Crescimento inclusivo: soluções sustentáveis”. Avanços já alcançados e realização do potencial da Cúpula serão aspectos tratados no encontro em Fortaleza.

No dia 14, haverá reuniões dos cinco países entre: ministros das Finanças e presidentes dos Bancos Centrais; ministros do Comércio; e reunião de presidentes de Bancos de Desenvolvimento Nacional.

No mesmo dia, a Capital do Ceará sediará o Business Meeting 2014 do Brics, encontro com empresários dos cinco países, que será composto pelas atividades Fórum Empresarial e Business Networking e que já possui 716 inscritos.

Já no dia 15, entre outros temas, os mandatários do grupo deliberarão sobre o Arranjo Contingente de Reservas (CRA) e sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).

Em Brasília, no dia 16, ocorrerá reunião de trabalho entre os mandatários e Chefes de Estado e de Governo da América do Sul.

COMÉRCIO - Relações aquém do potencial

As relações comerciais entre Brasil e Rússia já tiveram dias melhores. Pelo menos para o Brasil. Se na década de 1980 o País era um grande exportador de manufaturados, como calçados, confecções, móveis e autopeças para a então União Soviética, hoje exporta basicamente carne congelada, açúcar e café. “É como se estivéssemos voltado ao passado”, diz o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Castro.

Do outro lado, as importações brasileiras vindas da Rússia estão concentradas em insumos para a agroindústria, além de diesel e alumínio. “O cenário mudou com a perda de competitividade dos manufaturados brasileiros. Não podemos esquecer que a Rússia faz fronteira com a China. Hoje, a gente não tem como competir”.

Para Marcos Troyjo, o comércio entre os dois países ainda está aquém do potencial, “mas que pode ser multiplicado por dois e atingir US$ 10 bilhões em 2020”, ele diz. “Em 2013, a corrente de comércio bilateral foi de US$ 5,6 bilhões, com superávit de US$ 298 milhões para o Brasil”. Troyjo diz que ainda há possibilidade de grande fornecimento, por parte do Brasil, de commodities e outros insumos. “No setor mineral e energético, ambos são produtores de itens como minério de ferro e petróleo, de alta demanda mundial, o que não os configura como competidores. Também não competem em suas respectivas áreas de influência econômica, a América do Sul e a Eurásia”.

Para o presidente da AEB, uma das razões para a perda de competitividade do Brasil no mercado russo é a precariedade da infraestrutura logística dos dois países. Ele diz ainda que mesmo comparado com a Rússia, a burocracia brasileira é grande. “O acesso a porto no Brasil é muito difícil. E o custo de produção muito elevado”.

Se as relações econômicas entre Brasil e Rússia não têm tanto peso para as suas respectivas economias, o professor Paulo César Nascimento diz que o Brasil pode se beneficiar principalmente da transferência de tecnologia. “Além de, no campo militar, a Rússia ser mais desenvolvida, o Brasil poderia lucrar com a transferência de tecnologia para petróleo e gás”.

Leia amanhã: Brasil e Índia: o potencial de parcerias é grande, mas o desconhecimento persiste entre ambos

 

Repórter: Bruno Cabral

Fonte: Jornal O Povo