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Publicado em: 01/07/2014

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REAL - Não há risco de volta da hiperinflação, diz Edmar Bacha

O POVO entrevistou, com exclusividade, um dos idealizadores do Plano Real. Tucano, ele critica a política econômica do Governo, mas afirma que não há risco de volta da hiperinflação

Após duas décadas de vigência do Plano Real, sobram elogios ao projeto por parte de um de seus idealizadores, o economista e sócio-fundador da Casa das Graças, Edmar Bacha. Filiado ao PSDB e escolhido para integrar a equipe econômica do presidenciável tucano Aécio Neves, ele não deixou de criticar a política econômica da presidente Dilma em entrevista exclusiva ao O POVO, por telefone.

OPOVO - Qual a avaliação do senhor sobre os 20 anos do Plano Real?

Edmar Bacha - É positivo. O objetivo básico do plano era acabar com a hiperinflação e acabou. O problema é que a gente não conseguiu fazer uma economia forte. Você não tem aquela inflação descabelada como tinha antes, mas tem inflação alta e déficit externo.

OP - A hiperinflação pode retornar?

Edmar - Não há risco de voltar a hiperinflação, porque quando o governo ameaça perder controle do índice, imediatamente cai a popularidade do Governo perante a população.

OP - Qual o grau de confiabilidade da moeda atualmente?

Edmar - A gente vive de preços surreais. A gente costuma brincar, aqui em São Paulo, que o pobre vai para Miami, a classe média para a Europa e o rico quando pode vai para o Nordeste.

 OP - Falta algo para o real inspirar maior confiança?

Edmar - O problema não é tanto com moeda, é que a economia brasileira está pouco produtiva. Temos um nível de renda per capita de US$12 mil por ano. Não é nem a metade do que tem Portugal. E é a política do atual governo quem está levando o País a essa situação.Um grande problema nosso, por exemplo, é o isolamento comercial do mundo.

OP - Como assim?

Edmar - O Brasil é um dos países que não exporta quase nada, o pouco é de commodities e não tem acordo comercial com ninguém. Seria uma maravilha se, no Nordeste, em vez de se comprar produtos a preços surreais do Sul, pudesse estar negociando com o Norte.

OP - Pode-se considerar o Real uma moeda forte?

Edmar - É uma moeda que dá para o gasto. O dólar valia 0,83 centavos de real. Hoje ta valendo R$ 2,20.

OP - Qual sua avaliação sobre o Real no que versa sobre importação e exportação?

Edmar - Para exportar tem que estar integrado nas cadeias produtivas internacionais. O governo não quer saber dessa integração e faz tudo aqui dentro e tudo muito mal, com baixa qualidade.

OP - Existe uma um câmbio ideal?

Edmar - O importante é ter uma parcela muito maior da nossa produção exportada. Atualmente, do total da nossa produção apenas 12% é exportado e apenas 13% do consumo é importado. Seria melhor se exportássemos e importássemos o dobro, porque teríamos indústrias mais competitivas e, por outro lado, poderíamos ter produtos fabricados internamente.

OP - Como dobrar a exportação?

Edmar - Como parte da resolução desse problema para dobrar a exportação e importação, tem-se que atacar o Custo Brasil, a alta carga tributária e a falta de infraestrutura.

OP - O Banco Central (BC) tem independência?

Edmar - Na teoria ele é dependente. O banco não tem independência formal. Além de tudo, no governo Dilma, o BC vinha reduzindo juros na marra e a inflação crescendo.

OP - Qual o impacto do aumento na concessão de crédito na moeda?

Edmar - Você tem, no Brasil, dois tipos de concessão de créditos: os livres dos bancos privados e o direcionado, dado pelo BB (Banco do Brasil) para a agricultura. Este último não é afetado pela politica econômica do BC. Quando ele sobe a taxa de juros, isso não afeta o crédito direcionado, então, o BC tem que subir a taxa de juros duas vezes mais para ter efeito na inflação. E esse é o problema: a taxa de juros extremamente alta.

OP - O que o senhor espera para as eleições deste ano?

Edmar - Espero que a oposição ganhe e haja reversão total na política econômica, para que o País volte a crescer e tenha estabilidade econômica, além de reindustrialização.

 

APÓS 20 ANOS - Real ainda é moeda forte, dizem especialistas

Independentemente de quem esteja governando o Brasil, o Real ainda é uma moeda que inspira confiança. É o que avaliam o economista e diretor-geral da Mesometrica, Alípio Leitão, e o consultor financeiro, João Maceno Gomes, ao fazerem o balanço de 20 anos do Plano Real.

Para ambos, a moeda tem um nome forte no mundo. “Talvez um dos países com omaior nível de credibilidade no eixo sul seja o Brasil, tirando a Nova Zelândia, lógico”, afirma Alípio. Segundo João, foi um dos melhores legados que o governo do Partido dos Trabalhadores (PT) pode ter recebido.

“A população amadureceu economicamente e a nova geração, mesmo que não tenha passado pela época da hiperinflação, não aceita mais aquele patamar elevado”, complementa o consultor.

Os especialistas discordam apenas quando o assunto é um câmbio ideal para exportação e importação. “R$ 2,30 seria um ótimo patamar para equilibrar”. Porém, ele adverte que a economia não pode ter câmbio fixo. “Tem que ser flutuante.”

Já para Alípio, não existe um câmbio ideal. “O câmbio vai ser precificado pelo mercado”. (BC)

 

Repórter: Beatriz Cavalcante

Fonte: Jornal O Povo