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Publicado em: 27/03/2014

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BC e mercado projetam inflação maior para 2014 e 2015

27/03/2014.

BRASÍLIA - A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fecharia 2014 em 6,1%, na hipótese de o Banco Central (BC) não promover nova elevação da taxa básica de juros na semana que vem, quando voltará a se reunir para calibrar a Selic.

As projeções para o chamado cenário de referência, que pressupõe Selic constante em 10,75% ao ano e dólar a R$ 2,35, foram divulgadas nesta quinta-feira pela autoridade monetária no Relatório Trimestral de Inflação de março. Haveria, portanto, aumento em relação a 2013, quando o índice subiu 5,91%.

Medida em 12 meses acumulados, sem novo aumento de  juros, a inflação do IPCA não cairia para 4,5%, centro do intervalo da meta definida pelo governo, nem até fim do primeiro trimestre de 2016, horizonte final das projeções e momento em que estaria na casa de 5,4% ao ano.

No relatório de dezembro de 2013, o BC previa que, num cenário de juros e câmbio estáveis, ambos em outro patamar na ocasião, a inflação do IPCA seria de 5,6% em 2014 e de 5,4% em 2015.

A projeções pioraram apesar do aperto da política monetária desde dezembro passado, quando cenário de referência levava em conta uma Selic de 10% ao ano. Depois disso, o BC já promoveu duas altas na taxa básica de juro, em janeiro e fevereiro, uma de 0,5 ponto e outra de 0,25 ponto percentual, elevando a Selic a 10,75% ao ano. A taxa de câmbio considerada não mudou, pois já era de R$ 2,35.

No cenário de mercado, as projeção são de um aumento de 6,2% no IPCA em 2014 e de 5,5% no próximo calendário. No documento de dezembro, essas cifras eram 5,6% e 5,3%, respectivamente. Para o primeiro trimestre de 2016, a expectativa é de inflação de 5,2%.

O BC voltou a afirmar no Relatório Trimestral de Inflação que a transmissão das ações de política monetária ocorre com defasagens, mas que há certo grau de incerteza sobre a intensidade de materialização desses efeitos.

Segundo o colegiado, essa incerteza pode aumentar, “e de fato tem aumentado” em ambiente como o atual, em que a volatilidade dos mercados financeiros tem sido ampliada pela forte inclinação da curva de juros nas economias maduras, em particular, nos Estados Unidos.

O Copom lembra que diversos canais, como  demanda, do crédito, do câmbio, e das expectativas estão envolvidos nesse processo de transmissão e operam não necessariamente com a mesma intensidade e de forma simultânea.

No entanto, considerando a experiência brasileira, o Copom menciona que, se infere "que a resposta da economia ao atual ciclo de ajuste da taxa Selic, combinada às perspectivas para os próximos trimestres, segue em linha com o que se poderia antecipar”.

Colocando de outra forma, o BC explica que as informações disponíveis sugerem que os impulsos monetários têm se propagado normalmente por intermédio dos principais canais de transmissão e que, assim, continuarão nos próximos trimestres.

O Relatório Trimestral de Inflação voltou a chamar atenção para o choque no preço dos alimentos in natura. Ponto que foi destacado pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, em recente apresentação no Senado.

Embora se trate de choque temporário, que tenderia a ser revertido nos próximos meses, “o Comitê reafirma seu entendimento de que os efeitos secundários decorrentes desses desenvolvimentos, e que tenderiam a se materializar em prazos mais longos, podem e devem ser limitados pela adequada condução da política monetária”.

Quando Tombini deu esse “recado” em apresentação no Senado a percepção no mercado foi de que novas altas na taxa de juros ocorrerão. A divisão é se serão uma ou mais altas de 0,25 ponto percentual nas próximas reuniões. Semana que vem o Copom estará reunido e poderá dirimir essa dúvida.

O BC volta a falar da importância das expectativas sobre os preços e nota, mais uma vez, que as expectativas são impactadas negativamente,, nos últimos meses, pelo nível da inflação corrente, pela dispersão de aumentos de preços e pelas incertezas que cercam a trajetória de preços com grande visibilidade, como o da gasolina e os de alguns serviços públicos, como eletricidade.

“A esse respeito, o Comitê tem agido no sentido de fazer com que a elevada variação dos índices de preços observada nos últimos doze meses seja percebida pelos agentes econômicos como um processo de curta duração. Com isso, a persistência da inflação tenderia a diminuir, bem como os danos que causaria à tomada de decisões sobre consumo e investimentos”, diz o Relatório de Inflação.

 

Fonte: Valor Online (Jornal Valor Econômico)