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Publicado em: 22/01/2015

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SEM SURPRESA - Copom mantém aperto e volta a elevar Selic: 12,25% ao ano

Trata-se do maior percentual desde agosto de 2011, quando a taxa estava em 12,5%. Alta visa controlar a inflação

Brasília. Pela terceira vez seguida, o Banco Central (BC) reajustou os juros básicos da economia. Por unanimidade, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou ontem a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, para 12,25% ao ano. O órgão manteve o ritmo do aperto monetário. Na reunião anterior, no início de dezembro, a taxa também tinha sido reajustada em 0,5 ponto.

Com o reajuste, a Selic chega ao maior percentual desde agosto de 2011, quando estava em 12,5% ao ano. A taxa é o principal instrumento do BC para manter a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), dentro da meta estabelecida pela equipe econômica. De acordo com o Conselho Monetário Nacional, o centro da meta de inflação corresponde a 4,5%, com margem de tolerância de 2 pontos percentuais, podendo variar entre 2,5% (piso da meta) e 6,5% (teto da meta).

Acima do teto

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do País, somou 6,41% em 2014. Conforme o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo BC, o índice deve encerrar 2015 em 6,67%, acima do teto da meta. A projeção pode subir nas próximas semanas por causa dos aumentos da energia, dos combustíveis e da alta de tributos anunciados recentemente pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Embora ajude no controle dos preços, o aumento da taxa Selic, defendido pelo presidente do BC, Alexandre Tombini, prejudica o reaquecimento da economia, que ainda está sob efeito de estímulos do governo, como desonerações e crédito barato. De acordo com o boletim Focus, analistas econômicos projetam crescimento de apenas 0,38% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e serviços produzidos pelo país) neste ano.

A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Quando reduz os juros básicos, o Copom barateia o crédito e incentiva a produção e o consumo, mas alivia o controle sobre a inflação.

Nova alta em março

O curto comunicado do Banco Central (BC) relativo à decisão de elevar a Selic em 0,50 ponto porcentual indica que Copom pode adotar mais dois aumentos de juros nas reuniões de março e abril, em razão do cenário menos favorável para a inflação no primeiro semestre, afirmou Bruno Rovai, economista do banco Barclays. "A mensagem do BC deve ter sido influenciada por uma condição mais difícil para o IPCA até junho, especialmente com maiores pressões de alta dos preços vindas sobretudo de aumentos de gasolina e de eletricidade", comentou.

Rovai avaliava, antes do comunicado divulgado pelo BC ontem, que o terceiro ciclo de aperto monetário do governo Dilma Rousseff, iniciado em outubro, seria encerrado no dia 4 de março, quando a taxa básica avançaria de 12,25% para 12,5%. Contudo, ele pondera que mais uma elevação poderá ser adotada no dia 29 de abril. Ele diz que a Selic encerrará o ano em 12,25%, pois estima que o Copom voltará a cortar a taxa no dia 25 de novembro, quando será encerrada a última reunião de 2015.

Com a confirmação da elevação em 0,50 ponto da Selic anunciada ontem, a agência classificadora de risco de crédito Austin Rating também projeta que o BC deve realizar mais dois aumentos de 0,50 ponto nas reuniões de março e abril do Copom.

Taxa eleva juros ao consumidor

São Paulo. A alta de 0,50 ponto porcentual na taxa básica de juros da economia (Selic), anunciada ontem (21) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), terá um efeito "muito pequeno" nas operações de crédito para pessoa física. A avaliação é da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), que projetou o impacto da elevação da Selic de 11,75% para 12,25% ao ano nos juros de mercado.

Para a entidade, com a alta da Selic para 12,25% ao ano, a taxa de juros média para pessoa física vai subir 0,94 ponto porcentual, para 109,02% ao ano, provocando uma variação de mais de 800% entre as duas pontas. Já a taxa média para empresas vai aumentar 0,7 ponto, para 52,51% ao ano.

Segundo projeções da Anefac, a alta da Selic para 12,25% ao ano deve fazer com que os juros cobrados no comércio subam de 76,53% para 77,34% ao ano. A taxa de juros média do cartão de crédito, por sua vez, deve aumentar de 258,26% para 259,81% ao ano. No caso do cheque especial, os juros cobrados pelos bancos subirão de 178,80% para 180,03% ao ano.

Recuperação da economia

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) criticou a decisão do Copom de elevar a taxa básica de juros. Para a CNI, o aumento dificultará a recuperação da economia. Em nota, a CNI avalia que os efeitos da elevação são o aumento dos custos dos financiamentos, a dificuldade de acesso ao crédito e a redução do consumo das famílias e dos investimentos das empresas.

IPCA deve chegar a 2% no 1º bimestre

Brasília. Os aumentos de impostos promovido pelo governo Dilma Rousseff vão levar a inflação a registrar as taxas mais elevadas para o período entre janeiro e fevereiro em 12 anos. Dados preliminares do próprio Ministério da Fazenda apontam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve acumular uma alta igual ou superior a 2% entre janeiro e fevereiro deste ano. Será um resultado quase duas vezes superior ao verificado em igual período de 2014.

O IPCA, segundo uma fonte da Fazenda, deve registrar uma variação entre 0,9% e 1,1% nos meses de janeiro e fevereiro. A alta pode se repetir também em março, se o governo decidir repassar às contas de luz os valores reivindicados pelas distribuidoras de energia elétrica.

Desde 2003, o IPCA não registra uma elevação igual ou superior a 1% em janeiro. No ano passado, o índice avançou 0,55% em janeiro e 0,69% em fevereiro. No entanto, é cristalina no governo a percepção de que a inflação deve "piorar antes de melhorar". O ministro Joaquim Levy tem, inclusive, sustentado essa visão em reuniões no Palácio do Planalto.

Em uma delas, defendeu diante da presidente Dilma Rousseff a necessidade de "sustar" os repasses do Tesouro Nacional às distribuidoras de energia, forçando o aumento da conta de luz para sustentar as necessidades de caixa das empresas elétricas.

FMI: contas fiscais devem melhorar

Nova York. O compromisso da equipe econômica de Dilma Rousseff, em melhorar as contas fiscais e controlar a inflação, deve ajudar a melhorar a confiança no conjunto de políticas macroeconômicas do Brasil, avalia o diretor do Departamento para o Hemisfério Ocidental do Fundo Monetário Internacional (FMI), Alejandro Werner. Ele falou ontem, com jornalistas sobre as perspectivas para a América Latina (AL).

Mesmo após as eleições e a redução das incertezas sobre os nomes do segundo mandato de Dilma, os níveis de confiança de empresários e consumidores teimam em permanecer muito baixos no País, ressaltou Werner. "A atividade econômica é anêmica", afirmou. A projeção do FMI é de que o Brasil cresça apenas 0,3%, este ano, depois de ficar praticamente estagnado em 2014, avançando 0,1%, um dos piores desempenhos da AL.

Opinião do especialista

'Banco Central está correndo atrás do prejuízo'

O aumento da taxa básica Selic para 12,25% ao ano já era esperado. Na verdade, o que o Banco Central está tentando fazer é correr atrás do prejuízo, já que muitos excessos foram cometidos no primeiro mandato da presidente Dilma, como o fato de segurar demasiadamente os preços administrados (como combustíveis e energia) e o câmbio. Essa nova alta, porém, reforça a pressão na já fragilizada atividade econômica do País, que tem grandes chances de encerrar 2015 estagnada ou até mesmo no vermelho. Isso sem falar que o Banco Central não deve parar por aí, posto que na próxima reunião do Copom já devemos ver um novo aumento. Vai depender muito do quanto a economia brasileira desacelerará. Se o impacto for muito grande, por exemplo, talvez a instituição financeira até não precise promover outros reajustes. É incerto. O que preocupa é que, mesmo com o aperto monetário do BC, a inflação do Brasil deve fechar este ano acima do teto da meta, de 6,5%, voltando a ficar abaixo disso apenas em 2016.

Ênio Arêa Leão - Economista

Fonte: Diário do Nordeste