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Publicado em: 14/07/2014

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RELEVÂNCIA - 800 empresários devem participar da pré-cúpula

A agenda do evento contempla reuniões pré-cúpula e sessões de trabalho envolvendo os chefes de Estado

A Cúpula do Brics, que ocorre pela segunda vez no Brasil, tendo a Capital cearense como palco, marca a sexta edição do evento. Pela primeira vez, sua realização será dividida entre duas cidades, pois Brasília também receberá parte da programação oficial. Segundo a agenda divulgada pelo Itamaraty, nesta segunda-feira (14), no Centro de Eventos do Ceará, ocorrerão as reuniões pré-cúpula, entre elas, a realização do Foro Empresarial e dos Grupos de Trabalho do Conselho Empresarial dos cinco integrantes do grupo. A expectativa é que cerca de 800 empresários do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul participem desse encontro.

Ainda hoje, ocorrem também reuniões dos ministros responsáveis pelo comércio desses cinco países, assim como dos ministros da Fazenda de cada um deles e também dos presidentes dos respectivos bancos centrais. Já amanhã (15), também no CEC, ocorrerá a primeira sessão de trabalho da VI Cúpula Brics, envolvendo uma reunião privada e outra plenária dos presidentes do Brasil (Dilma Rousseff), da Rússia (Vladimir Putin), da China (Xi Jinping) e da África do Sul (Jacob Zuma) e do primeiro ministro da Índia (Narendra Modi). Durante os discursos públicos, deverá ser destacado o papel dos emergentes na inclusão de pessoas no mercado de consumo, seja pelo crescimento econômico ou por meio de políticas públicas, e reforçar o compromisso com o desenvolvimento sustentável, evocando, assim, a contribuição dos países do Brics na redução da pobreza e no alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), não apenas em seus territórios.

Cerimônia de assinaturas

Após as respectivas falas, é esperada a Cerimônia de Assinatura de Atos, resultantes dessa primeira sessão de trabalho. Os mais aguardados são as assinaturas do Tratado Constitutivo do Arranjo Contingente de Reservas, que instituirá um fundo no valor de US$ 100 bilhões para auxiliar os membros que, no futuro, estejam em situação delicada s e do acordo para a criação do banco de desenvolvimento.

Na Capital federal

Por fim, na próxima quarta-feira (16), no Palácio do Itamaraty, em Brasília, acontece a segunda sessão de trabalho dessa Cúpula, quando então os líderes do Brics se reúnem com os chefes de Estado e ou de Governo da América do Sul. Estes serão convidados a apresentar sua perspectiva sobre o tema da cúpula de 2014 - Crescimento Inclusivo: soluções Sustentáveis. O convite aos líderes regionais, outra novidade para o encontro do Brics deste ano, faz parte da estratégia do grupo de aproximação com países não membros, priorizando nações em desenvolvimento.

Cúpulas anteriores

A primeira Cúpula do Brics, ou Cimeira, como também é chamada, ocorreu na cidade Ecaterimburgo, na Rússia, no dia 16 de junho de 2009, com a presença dos chefes de Estado do Brasil, Rússia, China e Índia. O segundo encontro foi realizado no ano seguinte, em Brasília (dias 15 e 16 de abril), com a presença dos mesmos chefes de Estado. Já a terceira Cúpula ocorreu em Sanya, na China, em 14 de abril de 2011, quando então a África do Sul se juntou ao grupo. Já a quarta e quinta cúpulas foram realizadas, respectivamente, em Nova Deli (Índia), em 29 de março de 2012; e Durban (África do Sul), entre 26 e 27 de março de 2013. (ADJ)

Principais anseios do grupo de países

Representando 42% da população mundial, o Brics pode ser considerado, na avaliação do coordenador do Núcleo de Estudos Internacionais da Unifor, professor Antônio Walber Muniz, um polo ou plataforma de articulação diplomática, que detém, em conjunto, influencia política e econômica em nível global. E, nessa perspectiva, seus integrantes deixam claro a que vieram e o que pretendem em conjunto ou individualmente na esfera internacional.

"A China vem se colocando no grupo como promotora da cooperação para o crescimento econômico, enquanto a Rússia articula a cooperação entre a paz e a segurança internacionais. O Brasil, por sua vez, vislumbra a questão de investimentos, infraestrutura e mobilidade por meio de uma agenda de cooperação no bloco. Já a Índia se coloca em torno do combate aos conflitos internacionais onde se encontram as maiores economias em desenvolvimento na atualidade, e a África do Sul no enfrentamento à pirataria no oeste do continente e na melhoria da segurança e cooperação entre os países Brics", expõe.

Para Muniz, estes são pontos fortes e vistos em conjunto resultam em questões como modernização dos países; desenvolvimento sustentável; combate à pobreza; reformas no sistema financeiro internacional, notadamente no Fundo Monetário Internacional (FMI); e garantia da ordem global e da paz, principalmente no Oriente Médio.

"Eu diria que os países se posicionam coletivamente, respeitadas as suas particularidades históricas. A China possui mais recursos financeiros, porém sozinha não avança muito. Enfim, a ideia do posicionamento coletivo resulta na contribuição de todos para o desenvolvimento multipolar a partir de um novo modelo de relações comerciais, visto que o Brics representa a abertura de nova etapa de desenvolvimento de interesse comum", afirma.

Força conjunta

Atuando em conjunto, destaca Muniz, o Brics facilita o diálogo e ajuda na superação de desafios que acontecem ou que são inerentes a cada um de seus membros. "É um grupo único que trabalha em conjunto no combate aos conflitos internacionais. O diálogo sobre a diminuição dos déficits das instituições alicerçadas no período pós-guerra visando refletir sobre um mundo mais democrático talvez seja uma relevante pretensão do grupo".

Para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE), é forte o desejo comum por paz, segurança, desenvolvimento e cooperação. "Foi isto que os uniu. O Brics acredita ser a cooperação e o diálogo aprofundado e ampliado entre seus membros propício não apenas para servir aos interesses comuns das economias emergentes e dos países em desenvolvimento, mas também para a construção de um mundo harmonioso, de paz duradoura e prosperidade comum", aponta o MRE.

"O Brics tem forte compromisso com a diplomacia multilateral, com as Nações Unidas desempenhando papel central no trato dos desafios e ameaças globais. Nesse sentido, defendem a necessidade de uma reforma abrangente nesta entidade, incluindo seu Conselho de Segurança", diz o Ministério.

 

FORÇA DO FUTURO - Emergentes têm peso mundial

Juntos, os Brics estendem-se por cerca de 26% da área terrestre do planeta e têm 46% da população mundial

Mesmo diante das situações específicas que cada país vive neste momento, conforme apontam economistas e analistas de mercado, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) acredita que os integrantes do Brics continuarão a desempenhar, assim como nos últimos anos, importante papel na economia global. "Os Brics, reunidos, estendem-se por cerca de 26% da área terrestre do planeta e abrigam 46% da população mundial. Em matéria de crescimento econômico, o grupo encontra-se à frente do prognóstico de 2001 (África do Sul não incluída): 18% do PIB mundial, à frente da previsão original do Banco Goldman Sachs, de 14,2%", destaca o MRE.

Além disso, emenda o Ministério, a participação do Brics nas exportações mundiais, segundo dados da Organização Mundial do Comércio (OMC), mais do que dobrou no período entre 2001 e 2011, passando de 8% para 16%. "Nesses onze anos, o volume total de exportações do Brics cresceu mais de 500%, comparado com o crescimento de cerca de 195% do montante global de exportações. Entre 2002 e 2012, o comércio intra-Brics avançou 922%, de US$ 27 trilhões a US$ 276 trilhões. Entre 2010 e 2012, o fluxo comercial do grupo aumentou 29%, de US$ 4,70 trilhões para US$ 6,07 trilhões", afirma.

Assim, mesmo com taxas de crescimento inferiores em relação aos anos anteriores, aponta a autoridade brasileira, "a contribuição dos Brics em conjunto à economia mundial continuará a ser importante, especialmente tendo em conta que seu crescimento econômico será maior do que o das economias avançadas". Nesse contexto, aponta ainda o MRE, os emergentes compartilham a visão de que o mundo está passando por amplas, complexas e profundas mudanças, marcadas pelo fortalecimento da multipolaridade, pela globalização econômica e pela crescente interdependência.

Desenvolvimento comum

"Eles entendem que, ao enfrentar esse ambiente global em transição e seus múltiplos desafios, a comunidade internacional deve unir esforços para fortalecer a cooperação em benefício do desenvolvimento comum. Com base em normas universalmente reconhecidas pelo direito internacional e com espírito de respeito mútuo e decisão coletiva, a governança econômica global deve ser reforçada, a democracia nas relações internacionais deve ser estimulada, e a voz dos países emergentes e em desenvolvimento deve ganhar maior ressonância nas relações internacionais", expõe o Ministério, reforçando o esforço de avanço conjunto do Brics no cenário internacional.

Motores do crescimento

Assim como o MRE, o coordenador do Núcleo de Estudos Internacionais da Universidade de Fortaleza (Unifor), professor Antonio Walber Muniz, acredita que os países do Brics devem continuar como motores do crescimento mundial. "Não creio em incertezas. O Banco do Brics que será institucionalizado nesta Cúpula de Fortaleza financiará projetos conjuntos nas áreas de desenvolvimento, infraestrutura e trocas comerciais. Isso é muito significativo e instigador a possíveis reposicionamentos nas áreas financeiras internacionais. Devemos observar que o Brics em 2030 superará o G20 em desenvolvimento econômico, essa é a meta", afirma.

 

Repórter: Anchieta Dantas Jr.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste