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Publicado em: 07/12/2015

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PÓS-PEDIDO DE IMPEACHMENT - Para onde vão os rumos da economia a partir de agora?

Para especialistas, quanto mais tempo levar o processo de saída da presidente, mais grave será a crise

O surgimento de fatos novos sobre as chances da presidente deixar ou não o cargo, ainda durante o processo, provocará uma alta volatilidade de indicadores financeiros

Ao abrir o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na última quarta-feira (2), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, promoveu um abalo ainda maior sobre o delicado cenário político do País. Ainda que a ação não provoque impacto direto à economia brasileira no curto prazo, especialistas apontam que o cenário de incerteza provocará um aprofundamento ainda maior da crise econômica em 2016.

Para o economista Ricardo Eleutério, o longo processo de impeachment será repleto de fatos novos quanto às chances da presidente deixar ou não o cargo, provocando uma alta volatilidade de indicadores financeiros e a manutenção do pessimismo do mercado. Ele aponta que não há perspectiva de mudanças substanciais no rumo da economia, de forma que o fundo do poço parece ainda não está perto de ser atingido.

Euforia passageira

A avaliação é reforçada pelo economista Henrique Marinho ao destacar que a euforia do mercado quanto a notícia da abertura do processo de impeachment foi passageira. Após o dólar registrar a maior queda em um mês e o Ibovespa ter operado em alta, durante o dia de ontem, o movimento era oposto: o dólar operou em leve alta de 0,03%, fechando o pregão a R$ 3,7471, e a bolsa caiu 2,23%, com 45.360,75 pontos.

"Com ou sem o impeachment, essa turbulência política tem que diminuir. Isso porque o governo está preocupado em se manter e a economia está ficando para o segundo plano", apontou. "Somente quando esse processo (de impeachment) chegar ao fim, o governo - seja o da presidente Dilma ou de outra pessoa - poderá sentar e ter de condições de tomar medidas para a retomada do crescimento", completou. Na avaliação de Marinho, até todo o processo ser concluído, a tendência é que os indicadores econômicos revelem uma economia cada vez mais deteriorada.

Indicadores

"O desemprego continuará aumentando, o dólar continuará pressionado, a taxa de juros permanecerá elevada, a produção e o consumo continuarão caindo, os investimentos por parte dos empresários também continuarão em declínio", acrescentou Eleutério. Paulo Figueiredo, diretor de operações da FN Capital, avalia que o cenário de incertezas provocará com que os investimentos estrangeiros voltem ao País com mais força somente em 2017.

"O investidor, principalmente o estrangeiro, fica reticente em investir em um país com essa instabilidade. Normalmente, se procura os riscos para uma rentabilidade maior, mas isso tem limite", pontuou. O próprio poder público já foi obrigado a cortar despesas para reduzir o déficit do Tesouro, o que já diminuiu e deverá diminuir ainda mais o volume de investimento público. Marinho lembra ainda que a Lei Orçamentária para 2016 ainda está para ser votada. "Ninguém sabe como vai ser, e isso faz com que os empresários posterguem seus investimentos", pontuou o economista.

Com a redução da atividade produtiva, especialistas são unânimes em apontar o aumento da taxa de desemprego durante, pelo menos, os seis primeiros meses de 2016. "Nesse mês era para o emprego estar crescendo, por conta das vagas de trabalho temporárias para o fim de ano, mas temos observado o oposto. Com certeza, o desemprego tende a crescer, e esse é um fator que independe de impeachment", destacou Marinho.

Inflação

Apesar de o governo ainda trabalhar com a projeção de 5,4% para a inflação no ano que vem, o mercado é bem mais pessimista. Conforme o boletim Focus, do Banco Central, a projeção para o mercado é de 6,5%, enquanto, neste ano, a previsão é de em torno de 10%. "Por conta até da elevação dos juros e da retração da economia, é provável que a inflação termine cedendo um pouco", apontou Figueiredo.

O próprio Banco Central já deu o recado, na última quinta-feira (3), que elevará a taxa de juros caso a inflação não dê sinais de rebaixamento. "Há uma possibilidade muito grande de se elevar a taxa de logo em janeiro do próximo ano para aproximar a inflação da meta de 4,5%", previu Marinho. Com o aumento dos juros, a economia se desaquece devido à redução do acesso da população e dos produtores ao crédito.

Já o dólar, a depender da decisão do Banco Central dos Estados Unidos em elevar ou não a taxa de juros no país, deverá permanecer em oscilação, mas mantendo o atual patamar. "O dólar alto não é tão ruim assim, porque as exportações, que tem uma contribuição importante para o PIB, são impulsionadas pelo câmbio desvalorizado. O que é ruim essa oscilação", ponderou o economista.

Para Figueiredo, a expectativa é que a moeda americana fique entre R$ 3,80 e R$ 3,90 em 2016, caindo para R$ 3,60 a R$ 3,70 no fim do ano.

Fonte: Diário do Nordeste