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Publicado em: 24/06/2015

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ENTREVISTA - Armando Monteiro: aposta nas exportações para compensar retração

Diante da retração no consumo interno, Governo aposta na exportação como saída para a indústria nacional, ajudado pelo câmbio favorável.

Jocélio Leal

ENVIADO A BRASÍLIA (DF)*

leal@opovo.com.br

Disposta a manter acesa a chama de uma agenda positiva, a presidente Dilma Roussef (PT) lança hoje, em cerimônia no Palácio do Planalto, o Plano Nacional de Exportações. Em suma, um pacote de medidas baseadas na desburocratização e na promoção comercial no Exterior. O Plano está na alçada do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o pernambucano Armando Monteiro, ex-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para ele, o Brasil precisa ampliar acordos internacionais e mirar com mais atenção para os EUA. Ele conversou com O POVO no gabinete dele em Brasília e antecipou a essência do pacote.

Saída para a retração

O Plano de Exportações está cercado de expectativas porque todos reconhecem que, nesse momento, apostar no comércio exterior é uma coisa que faz todo sentido porque nós temos um quadro de certa retração de atividade econômica no mercado doméstico. Esse quadro poderá até, de certo modo, se acentuar, porque estamos em meio a um processo de ajuste fiscal que vai significar uma contenção da demanda, não só porque o Governo vai gastar menos, mas também porque você está tendo como efeito disso, uma certa retração de crédito. Logo, teremos condições de reequilibrar a economia e retomar o crescimento. Mas enquanto isso não acontece, qual é o canal que nós temos? O mercado externo. O câmbio é melhor hoje para o exportador. Tivemos desvalorização do real. Assim, apostar na exportação é lógico.

O plano

O plano, em si, envolve uma série de pilares que são muito importantes e ao mesmo tempo, complexos. Não é uma coisa trivial. Não é dizer ‘eu vou anunciar um plano’. Como se fosse uma peça de marketing. Não. O plano tem que estar alicerçado em pilares importantes, por exemplo, que a política comercial do Brasil, de algum modo, se reposicione.

Um dos pilares do plano é a política comercial mais ativa, mais pragmática, com olhar mais amplo sobre oportunidades do mercado externo. O pilar está ligado à facilitação de comércio. Há uma agenda hoje, que está em movimento no mundo, que é facilitar procedimentos de importação e exportação, diminuir burocracia, colocar os órgãos que interagem no processo aduaneiro juntos.

Temos aqui um portal único no comércio exterior. Por que se chama portal único? Por que é uma espécie de janela única em que todos os órgãos que são intervenientes na exportação atuam ali, compartilham dados. Outro pilar do plano é promoção comercial. A Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) opera processo importante de promoção e inteligência comercial. Só se pode atuar no mercado externo se você tiver informação. Você precisa ter um sistema inteligente para saber como pode se colocar naqueles mercados-alvos, nos preferenciais. Promoção e inteligência comercial são outros pilares do plano.

Estados Unidos

Por exemplo, o mercado dos Estados Unidos é de imenso potencial. O Brasil não esteve muito ativo no sentido de poder valorizar mais essa inserção no mercado americano e, agora, entendemos que temos que apostar nele. A economia americana voltou a crescer e é, hoje, o principal mercado de manufaturado do Brasil, porque interessa exportar manufaturado. Esse reposicionamento da política comercial vai mudar. Como é que a gente pode entrar mais no mercado americano? Lá, o problema não é tarifa, é convergência regulatória, são barreiras não tarifárias. Exemplo são as normas técnicas que são exigidas para produtos cerâmicos. Há uma série de normas ligadas à qualidade e à normalização que precisamos harmonizar. Ou seja, colocar o nosso Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) com o órgão correspondente nos Estados Unidos para a gente harmonizar normas e buscar superar problemas regulatórios. O Brasil vai vender mais produtos cerâmicos nos Estados Unidos. De igual modo, vamos ampliar o mercado para têxteis, pamáquinas, equipamentos.

Mercosul

Não é que desprezemos o Mercosul. Mas temos que nos associar aos mercados que têm fluxos comerciais mais dinâmicos. Esse reposicionamento da política comercial é muito importante, é um pilar da exportação. Integrar o Brasil de maneira mais efetiva a uma rede de acordos internacionais de comércio que resultem na melhoria das condições de acesso do produto brasileiro a vários mercados. Estamos trabalhando nessa agenda, então isso pode produzir resultados em curto prazo. No México, podemos ampliar um acordo que já existe, de preferência tarifária, sem que isso signifique um acordo de livre comércio, que não se choca com o Mercosul. *O jornalista viajou a convite da Apex.

Fonte: O Povo