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Publicado em: 29/04/2015

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PREJUÍZOS COM A REFINARIA - Bendine propõe nova tancagem em troca de perdas

A proposta da Petrobras seria transferir o parque de combustíveis do Mucuripe para o Pecém, para compensar o Ceará

O presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, disse, ontem que a diretoria da estatal petrolífera estuda formas de compensar os estados do Maranhão e do Ceará pelos prejuízos causados com a desistência da implantação das refinarias de petróleo Premium I e II, respectivamente. Em relação ao Ceará, uma das medidas compensatórias em discussão com o governo seria a transferência do parque de gás e óleos (tancagem de combustíveis) do Mucuripe para uma área próxima de onde seria construída a planta de refino no Pecém, em São Gonçalo do Amarante.

"Como forma de compensação (dos prejuízos), está sendo discutido com os governantes desses estados uma maneira de compensação pelos impactos que trouxeram às suas economias. No caso específico do Ceará, há discussão premente, até por conta de uma necessidade ambiental, de se deslocar o parque de distribuição (de combustíveis do Mucuripe) para uma área próxima de onde se projeta fazer a refinaria", declarou Bendine, durante audiência pública no Senado sobre a situação financeira da estatal.

Sem data

"Eu acho que, com isso, a gente teria uma melhoria na performance da distribuição do Estado, o que elevaria a arrecadação (tributária). E isso compensa um pouco o Estado, em relação a isso (perdas da ordem de R$ 657 milhões, causadas pela Petrobras com a renúncia da refinaria)", acrescentou o presidente da Estatal, em resposta ao senador cearense, Tasso Jereissati.

Ainda em resposta a Tasso Jereissati, sobre o futuro do empreendimento no Estado, Bendine descartou a possibilidade da Petrobras investir nas refinarias Premium I e II, nos próximos cinco anos. "A curto prazo, não, senador. Categoricamente, pelos próximos cinco anos, não temos capacidade de investimentos de vulto para fazer uma refinaria no Ceará", respondeu.

Reação imediata

A confirmação do adiamento do empreendimento e a proposta de compensar os investimentos feitos pelo Ceará para implantar a refinaria gerou reação imediata do senador, do Governo do Estado e de estudiosos do setor de petróleo e gás. Para Tasso, a resposta "representa a confirmação oficial da Petrobras de que tudo o que foi feito (pelo governo federal), nos últimos dez anos, foi uma enorme farsa". "Isso (a transferência da tancagem) é mais uma embromação", reagiu o senador, lembrando que esse é um projeto antigo.

"Isso é uma falácia", corrobora o consultor na área de Petróleo e Gás, Bruno Iughetti, segundo quem já há um grupo privado italiano interessado em construir um moderno parque de tancagem no Pecém, com recursos próprios, sem ônus para os governos Estadual e Federal. Para ele, é questionável afirmar que a arrecadação do Ceará aumentaria com a mudança. "Esse é um mercado estático. Não iremos com isso conquistar novos mercados", explicou Iughetti.

O governador Camilo Santana evitou polemizar as declarações de Bendine e disse apenas, por meio da assessoria de imprensa, que "o Governo do Estado não vai parar de lutar para reaver as perdas causadas pela Petrobras e continua buscando outros parceiros para implantação da refinaria no Pecém, mesmo que seja sem a participação da Petrobras".

'Estamos em condições justas de preços'

Brasília. O atual preço dos combustíveis no Brasil foi considerado justo pelo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine. Em audiência conjunta das comissões de Infraestrutura e Assuntos Econômicos do Senado, ele explicou que, à exceção dos Estados Unidos, os valores estão dentro da média do mercado mundial. "Nossa gasolina não é tão mais cara, quando comparada com unidades de dólar e aos preços do mercado em geral, como o europeu. Hoje, estamos em condição justa de colocação de preços de derivados e não temos perspectiva de volatilidade em relação a isso", disse.

Bendine acrescentou que, diferentemente do Brasil, que adota um modelo mais estável, os americanos operam num quadro volátil, com preços mudando constantemente nas bombas. Ele atribuiu parte do prejuízo de R$ 21 bilhões da Petrobras à desvalorização cambial e à queda no preço do barril de petróleo.

Segundo ele, o barril chegou a US$ 114 em meados do ano passado, caindo para menos de US$ 50 no fim do ano. Para 2015, a empresa trabalha com o barril na casa dos US$ 70 e com o dólar a R$ 3,30.

O presidente da estatal afirmou que, com a publicação do balanço de 2014, foi vencido o capítulo da credibilidade da empresa em relação à sua financiabilidade. Disse, ainda, que os próximos passos são a revisão do plano de negócios, que deve sair em 30 ou 40 dias, e, na sequência, uma reorganização administrativa da empresa.

Sobre as perdas da empresa com corrupção, Bendine destacou que a empresa não defende mudanças na legislação que dá liberdade de contratação à estatal, mas que os processos de licitação serão revistos.

"Já estamos fazendo mapeamento de processos na empresa para identificar onde há fragilidade. Com certeza, isso mitigará de forma expressiva qualquer risco de desvio nas decisões da empresa", acrescentou.

 

Fonte: Jornal Diário do Nordeste