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Publicado em: 22/10/2015

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Corte de subsídios eleva preço do milho em 133%

Situação afeta os pecuaristas que, mesmo gastando mais, muitas vezes não conseguem manter os rebanhos

Os produtores rurais do Ceará estão sofrendo mais com a descapitalização e com a perda de rebanhos. O preço do milho, principal alimento do gado, subiu mais de 133% desde que o governo federal cortou os subsídios a este produto. A saca de 60 quilos, por exemplo, chegava ao Estado com o preço de R$ 18, mas agora está sendo comercializada a R$ 42.

Os subsídios permitiam à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) oferecer milho para criadores e agroindústrias de pequeno porte a preços mais baratos que nas lojas de insumos para animais. Desde que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, suspendeu o Programa de Vendas em Balcão da Conab, no entanto, o preço do produto passou a seguir como referência o valor médio de comercialização no mercado local.

Sem regulação          

Segundo o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Flávio Saboya, essa situação faz com que a Conab perca seu papel de reguladora de preço e deixe de dar o suporte necessário para a pequena e média produção. "Eu comprava milho da Conab em Maracanaú e levava para Cascavel. Como eu tinha de pagar o transporte, havia um acréscimo no valor, mas o preço era mais barato, valia a pena", disse. "Agora, os preços da Conab e do mercado local praticamente se igualaram", completou.

Perda de rebanhos

A elevação dos preços não provocou um aumento significativo da demanda por milho no comércio cearense. Ao contrário, os produtores que não conseguem pagar mais caro pelo cereal acabam tentando manter o gado com o pouco de pastagem que ainda possam ter nas fazendas ou com alimentos menos nutritivos. Alguns até deixam o rebanho passar fome ou vendem os animais para outro estado.

"O milho da Conab era uma salvaguarda para o agricultor familiar e para o pequeno e médio produtor manterem seus rebanhos", afirmou Saboya. Ele explica que todo o Estado está sendo afetado pela falta de milho. "Mais de 85% do Ceará fica no semiárido. A região está essencialmente relacionada à pecuária leiteira, ovinos e caprinos".

Polos temporários

Outro aspecto que aprofunda o problema é o fechamento de polos temporários onde o milho era comercializado a preços mais baratos. "Tínhamos quase 20 postos; agora, estamos resumidos a nove armazéns próprios da Conab", disse Saboya.

Ele afirma que a possibilidade de comprar o produto diretamente no posto eliminava a despesa do frete.

"É uma vantagem que nós tínhamos que também foi cortada pelo Ministério da Fazenda", acrescentou. Para Saboya, o governo não está analisando as repercussões nas atividades rurais geradas pelo corte dos subsídios à produção de milho.

Impacto negativo

A medida prejudicou tanto as regiões produtoras do cereal, quais sejam Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, como os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, que compravam o alimento a preços menores. "O governo federal deve mudar esse posicionamento e entender que estamos em uma região que não pode pagar o ônus pelo descontrole nas finanças do Executivo", afirmou Saboya.

"Além disso, o Programa de Vendas em Balcão ajudava os pequenos e médios agricultores, porque não permitia que grandes produtores comprassem milho da Conab", disse.

Impasse

O programa é administrado pelo Conselho Interministerial de Estoques Públicos (Ciep), composto pelos ministérios da Fazenda, Agricultura, Desenvolvimento Agrário e pela Casa Civil.

Os ministérios da Agricultura e Desenvolvimento Agrário apoiam o retorno do Programa de Vendas em Balcão, de acordo com o presidente da Faec, mas continua o impasse em relação ao Ministério da Fazenda e a Casa Civil, que são contra a manutenção do benefício.

Segundo a Faec, o Ceará precisa de 25 mil toneladas de milho, mensalmente, para atender às necessidades dos produtores, mas a Conab só disponibilizava 10 mil toneladas pelo programa.

Fonte: Diário do Nordeste