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Publicado em: 07/11/2014

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A PARTIR DE HOJE - Preço da gasolina tem alta de 3% e do diesel 5%

Ainda será incluído sobre os preços reajustados os tributos Cide, PIS/Cofins e ICMS

São Paulo/Rio. A Petrobras informou que irá reajustar a gasolina em 3% e o diesel em 5% nas refinarias a partir de hoje. O anúncio foi feito ontem, em comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Este é o primeiro aumento desde 29 de novembro de 2013.

A Petrobras havia recebido na última terça-feira (4) o aval do ministro da Fazenda, Guido Mantega, presidente do conselho de administração da empresa, para reajustar os combustíveis. Na ocasião, o ministro havia pedido à empresa não divulgasse o anúncio no dia, segundo a reportagem apurou.

A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, fez uma apresentação ao grupo, em Brasília, em que mostrava projeções com o percentual de 8% de reajuste. O esperado, contudo, era que o aumento para a gasolina ficasse em torno de 5%.

Repasse

De acordo com o assessor técnico do Sindicato dos Proprietários de Postos de Combustíveis do Ceará (Sindipostos-CE), Antônio José Costa, o reajuste promovido pela Petrobras nas refinarias pode chegar ao bolso do consumidor a qualquer momento. "É muito imprevisível. Como o mercado é livre, fica a critério de cada um repassar logo esse aumento ou não. Pode ocorrer hoje ou daqui a meses", ressalta.

Antonio José afirma também que ainda não é possível dizer se o reajuste promovido pela Petrobras é suficiente para compensar o preço reprimido da gasolina no mercado, que vinha sendo controlado pelo governo como forma de combate à inflação. "Quem vai ter que dizer isso é a própria Petrobras", pontua.

Negociação

Pelo estatuto da Petrobras, a decisão pelo reajuste dos combustíveis é da diretoria-executiva da empresa, liderada pela presidente Maria das Graças Foster. Na prática, porém, a alta é negociado junto ao governo, uma vez que a concessão traz impactos inflacionários, e depois a proposta é apresentada aos conselheiros. A União controla a Petrobras e, nessa condição, nomeia sete dos dez conselheiros.

Como depende do aval do governo federal para aumentar valores, a Petrobras não reajusta imediatamente os combustíveis conforme as oscilações do mercado internacional. Por conta dessa política, as perdas da empresa nos últimos quatro anos são calculadas em aproximadamente R$ 60 bilhões, de acordo com a corretora Gradual.

Neste ano, os combustíveis permaneceram a maior parte do tempo com preço abaixo da cotação internacional, chegando, em alguns casos, a uma defasagem de 20%. Com a queda no preço mundial do petróleo, da faixa de US$ 100 para US$ 85 o barril, no último mês, a perda diária da Petrobras praticamente deixou de existir.

Até a semana passada, último dado disponível, a gasolina estava 1% mais cara no Brasil do que no exterior. O diesel, por sua vez, tinha defasagem de 4,5%.

Apesar da menor defasagem, analistas dizem que o reajuste é necessário para recompor parte das perdas de caixa dos últimos anos, já que a dívida líquida da empresa subiu 237% nos últimos cinco anos, de R$ 71,5 bilhões para R$ 241,3 bilhões.

Diesel puxa etanol

O ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, presidente do conselho deliberativo da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), afirmou ontem que o reajuste de 3% da gasolina nas refinarias não deve melhorar a margem do etanol, mas o repasse da alta de 5% no valor do diesel acabará ampliando os custos do setor. O diesel é o combustível mais utilizado em tratores e caminhões na produção e transporte, tanto da cana quanto do etanol por parte das usinas.

"O aumento diesel é mais custo para o nível de rentabilidade do etanol e essa alta não beneficia nada", disse Rodrigues, salientando que a principal demanda do setor no curto prazo é o retorno da cobrança da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina. "O que tem de funcional para nós é a Cide e espero que ressurja com o tempo", complementa o ex-ministro.

Opinião do especialista

Impacto pequeno para a inflação neste ano

Este ano, o impacto inflacionário vai ser pequeno, mas existe um risco muito grande de nós não atingirmos a meta da inflação. Agora, claro, não dá para colocar a culpa na gasolina. Ela foi, sem trocadilhos, apenas a gota d'água.

O aumento é algo que tem de acontecer, pois a Petrobras possui sócios da iniciativa privada e ela sozinha não pode pagar as contas do governo federal. Tudo isso mostra o quanto o risco inflacionário é relevante e que temos uma inflação represada principalmente nos preços administrados. Estamos vendo combustível, mas a energia também beira um reajuste muito significativo.

Em outros ocasiões, inclusive, já mencionei o quanto os preços livres - aqueles sem o controle do governo - estão em alta e, agora, não tem mais como segurar os administrados.

A única forma de conseguirmos ficar dentro da meta da inflação este ano é se o ritmo da economia baixar e setores como a energia não serem pressionados.

Ênio Arêa Leão - Economista

Fonte: Diário do Nordeste