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Publicado em: 10/02/2017

Ato público marca atuação conjunta de servidores e sociedade contra a Reforma da Previdência

A unificação da idade mínima para homens e mulheres aos 65 anos também foi alvo de críticas dos congressistas e representantes das entidades que participaram do evento 

Ato público do movimento "A Previdência é Nossa" lotou o auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados na manhã desta quinta-feira (9). Diversos parlamentares usaram a tribuna para discursar contra a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 287/2016, que dispõe sobre alterações na aposentadoria no serviço público e na iniciativa privada. 

 

“Precisamos debater e, se for para ter uma reforma, é necessária uma nova proposta. Porque a PEC 287/2016 apresentada pelo governo federal representa um desmonte da Previdência Social”, disse o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB/SP). 

Já a deputada Erika Kokay (PT/DF) sustentou que o governo “criou um déficit da Previdência fictício, porque não incorporou as receitas da seguridade social no cálculo”. “Vamos cobrar um diálogo com o Poder Executivo para desmistificar esse déficit”, conclamou a parlamentar. 

Roberto de Lucena (PV/SP) também concordou que é preciso decifrar “o rombo” apontado pelo governo federal. E disse que seu gabinete já solicitou uma PFC (Proposta de Fiscalização e Controle) para avaliar as contas da Previdência e do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), em conjunto com o Tribunal de Contas da União (TCU). 

A unificação da idade mínima para homens e mulheres aos 65 anos também foi alvo de críticas dos congressistas e representantes das entidades que participaram do evento. 

“Esse governo arranca os direitos das mulheres. Não reconhece a dupla ou até tripla jornada da mulher que trabalha, é mãe, cuida do lar. Um cuidado que a Constituinte de 88 teve ao garantir a diferenciação de cinco anos na aposentadoria entre homens e mulheres”, afirmou Kokay. 

Na maioria dos discursos dos deputados e senadores, eles também reiteraram a importância da resistência e da luta dos trabalhadores para vencer mais esse desafio, destacando que a PEC 287 do jeito que está vai acabar com a aposentadoria no Brasil.

 “Precisamos ter coragem para o enfrentamento e não deixar esse governo retirar os nossos direitos. Não à reforma da Previdência”, declarou Erika Kokay. “A nossa coragem é o nosso segredo para vencer mais essa luta”, arrematou o deputado Chico Lopes (PCdoB/CE). 

Criticando outro tema polêmico da matéria, Rôney Nemer (PP/DF) defendeu que é “preciso ter regras claras de transição, para que o trabalhador que tenha a expectativa do direito não perca as suas garantias constitucionais”. O parlamentar cobrou ainda um estudo para saber qual o impacto da fórmula 85/95 progressiva para a aposentadoria por tempo de contribuição, que foi aprovada em 2015. “Na época da aprovação dessa proposta já havia sido considerado a expectativa de sobrevida dos brasileiros. Vai mudar esse cálculo de novo? Por que?”, questionou o deputado.  

O diálogo permanente entre as entidades e a importância da organização de encontros e mobilizações nos Estados foram defendidos pelo deputado Chico Alencar (PSOL/RJ) e pelo senador Paulo Paim (PT/RS). 

A representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Thaís Riedel, enfatizou que a entidade está muito preocupada com a maneira como a reforma tem sido conduzida. Sem o debate com especialistas, representantes das diversas carreiras envolvidas e da sociedade civil organizada. 

“É um tema denso, que exige um conhecimento aprofundado. Essa PEC precisa ser debatida com especialistas que estudam o tema. Porque falar em seguridade social é falar em risco. A OAB tem a convicção de que essa proposta não tem um viés social e nem de melhoria do sistema. A PEC 287/2016 tem como único objetivo retirar direitos dos trabalhadores brasileiros”, disse a advogada. 

Após uma breve apresentação da emenda substitutiva global que será proposta pela OAB, o advogado Diego Cherulli aproveitou a ocasião para ressaltar que o movimento “Pela Verdade da Previdência”, encabeçado pela Ordem, e “A Previdência é Nossa” atuarão sempre em conjunto, organizando debates nos estados e na luta por uma aposentadoria digna e segura para todos os cidadãos. 

No final do ato, o presidente do Fonacate e do Unacon Sindical, Rudinei Marques, leu o manifesto contra a reforma. Confira abaixo:  

MANIFESTO CONTRA A REFORMA DA PREVIDÊNCIA  

O Movimento A Previdência é Nossa, composto por entidades representativas das mais diversas categorias de servidores públicos e de trabalhadores da iniciativa privada, em parceria com a sociedade civil organizada, manifesta sua mais profunda preocupação com a Proposta de Emenda Constitucional – PEC 287/2016, que altera as regras da Seguridade Social no Brasil. 

A reforma da Previdência, por sua importância e pelo impacto causado na vida de milhões de brasileiros, exige um diálogo amplo e sincero com todos os segmentos sociais envolvidos, a fim de construir consensos e de encontrar o equilíbrio entre os mecanismos de proteção social e suas fontes de financiamento. Na contramão desse ideal, o governo elaborou sua proposta reunindo-se preponderantemente com setores empresarias e bancários interessados na matéria com o objetivo de incrementar seus lucros e resultados. 

Na forma proposta, a reforma da Previdência atenta contra o princípio fundamental da dignidade da pessoa humana, na medida em que condena milhões de brasileiros a trabalharem até a extenuação de suas capacidades físicas e laborais, desconsiderando relevantes aspectos geográficos e sociais. Atenta, ainda, contra os objetivos fundamentais preceituados em nossa Carta Magna, pois é uma proposta injusta, que prejudica o desenvolvimento nacional e que, sobretudo, ao invés de erradicar a pobreza e a marginalização e de reduzir desigualdades sociais e regionais, por certo, as aumentará, pois levará milhões de brasileiros à miséria e à indignidade. Prejudica, de igual forma, o direito dos mais jovens de ingressarem no mercado de trabalho, porquanto praticamente inviabiliza as aposentadorias. 

No lugar de medidas abusivamente gravosas aos trabalhadores, o Governo deveria formular propostas de aperfeiçoamento das receitas para financiar a Seguridade Social, garantindo a devida destinação dos recursos arrecadados, combatendo os desvios e a sonegação de contribuições, recuperando a dívida ativa e revisando os programas de incentivo que retiram recursos da seguridade. 

Por tudo isso, cobramos do Governo Federal e do Congresso Nacional a imediata suspensão da tramitação da PEC 287/2016, a fim de que seja promovido um efetivo debate com a sociedade brasileira, e de que possamos contribuir na busca de alternativas à proposta apresentada. 

Brasília, 9 de fevereiro de 2017 

A Previdência é Nossa

Fonte/Foto: Fonacate