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Publicado em: 13/05/2014

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AUMENTO DE CAPITAL - Eneva anuncia venda de usina térmica Pecém II

O acordo realizado pelo grupo inclui, ainda, o aumento de capital e o reperfilamento das dívidas bancárias

Em meio a uma crise energética, quando as térmicas estão operando a todo vapor, o grupo Eneva anunciou, ontem, a venda da Pecém II, usina térmica com capacidade instalada de 365 MW, sediada no município de São Gonçalo do Amarante. A unidade, que começou a funcionar no fim do ano passado, atualmente opera com a capacidade total e pode abastecer cerca de 1,7 milhão de residências, o que equivale a 2,4 vezes o consumo residencial de Fortaleza.

Segundo a assessoria de comunicação da Eneva, a usina está sendo ofertada a preço de mercado e o valor final depende das negociações, mas a E.ON, uma das acionistas controladoras do grupo, assegurou a compra de 50% da Pecém II até o limite de R$ 400 milhões, no caso de não haver propostas que ultrapassem esse limite. A térmica já pertenceu à MPX, de Eike Batista, que em setembro de 2013 mudou de controle e passou a ser Eneva. Além disso, será concedido um financiamento de longo prazo à Pecém II, no valor total de R$ 150 milhões, sujeito à aprovação de acordo com os contratos do grupo. O financiamento será concedido pelos bancos Itaú Unibanco, Banco BTG Pactual, Citibank e HSBC.

"Essa medida é um desdobramento da estratégia para enfrentar a situação financeira do grupo, não acredito que tenha impacto no preço da energia", avalia o professor do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Tomaz Nunes.

No leilão de energia A-5, realizado em 2008, a Eneva vendeu uma média de 276 MW para a Pecém II com contratos de 15 anos a partir de 2013, segundo a assessoria de comunicação.

Aumento de capital

A decisão de vender a usina foi firmada em conjunto com outras duas medidas, o aumento de capital da empresa e o reperfilamento das dívidas, com o intuito de aumentar para um nível sustentável o caixa da Eneva. A alta de capital privado na empresa será de até R$ 1,5 bilhão, realizado em duas etapas. Na primeira, a companhia iniciará um aumento de até R$ 316,5 milhões, no qual novas ações serão negociadas ao preço do fechamento do último pregão antes do anúncio do acordo, que foi de R$ 1,27 por ação. Do total, R$ 120 milhões serão aportados pela E.ON.

Simultaneamente, os bancos participantes do acordo concederão um empréstimo-ponte de curto prazo de R$ 100 milhões. Na segunda etapa, o valor total do aumento de capital pode chegar a R$ 1,5 bilhão, contando o valor já capitalizado na primeira fase. A E.ON disse que vai participar com até R$ 450 milhões.

A outra medida anunciada pela empresa, o reperfilamento da dívidas, envolve a reestruturação do endividamento da Eneva e de suas subsidiárias, no valor de R$ 600 milhões, e a prorrogação, para cinco anos, do prazo de vencimento dos empréstimos pendentes no grupo, com o início do prazo para amortização iniciando em julho de 2017. A ação inclui, ainda, a concessão de um empréstimo bridge à Eneva, de R$ 100 milhões, que deverá ser pago com os recursos do financiamento de longo prazo da Pecém II.

 

OPINIÃO DO ESPECIALISTA

Negociação vantajosa

Em termos de repercussão para o mercado, essa negociação não modifica muita coisa, já que o grupo está vendendo a usina Pecém II porque necessita amortizar dívidas. Por outro lado, essa venda é também benéfica para o próprio mercado, porque a térmica tem grandes chances de ser repassada para um grupo alemão grande de geradores de energia, e isso trará mais solidez para essa unidade, com investimentos que devem garantir a qualidade e a frequência do fornecimento energético.

Quem vai se beneficiar com essas melhorias aliadas à venda não é só o consumidor cearense, mas todos que estiverem integrados ao sistema elétrico nacional. Para a Eneva, é uma perda porque, nesse momento, quem possuir uma usina térmica, dificilmente vai vendê-la. Com a situação atual das hidrelétricas, o mercado de energia térmica está aquecido e o preço do produto está elevado.

O que não podemos esquecer, entretanto, é que as térmicas não podem suprir a demanda energética nacional, e o nível das barragens está cada vez mais baixo. É preciso que o governo pense com cautela nas próximas decisões relativas à energia.

João Mamede Filho - Consultor em Energia

 

Fonte: Jornal Diário do Nordeste