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Publicado em: 06/02/2015

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PREMIUM'S I E II - Petrobras desistiu para evitar 'novo' Comperj

A estatal apontou perda no balanço do terceiro trimestre de R$ 2,7 bilhões com refinarias do Ceará e Maranhão

Rio. Um dos focos de desgaste entre o Planalto e a direção demissionária da Petrobras, o lançamento de perdas no balanço com a desistência do projeto de duas refinarias no Nordeste foi uma medida de prudência e para evitar prejuízos ainda maiores no futuro. Ao jornal Folha de São Paulo, um integrante da alta administração da companhia disse que os empreendimentos, se levados adiantes, seriam "um novo Comperj e uma nova Renest (Refinaria de Abreu e Lima)", projetos que atrasaram anos, estouraram em muito seus orçamentos e estão sob investigação como possíveis alvos de desvios e corrupção.

A Petrobras lançou como perda em seu balanço do terceiro trimestre R$ 2,7 bilhões com as refinarias de Ceará e Maranhão. O fato irritou o governo por reduzir o lucro do terceiro trimestre a R$ 3,1 bilhões-menos que no segundo trimestre - em um momento em que a estatal, na avaliação do Planalto, precisava apresentar resultados melhores ao mercado.

Motivos

A decisão de desistir dos projetos ocorreu porque a previsão é de um crescimento menor do consumo doméstico de combustíveis nos próximos anos, a taxa de 2% a 3% ao ano, no máximo. "Não teremos mais crescimentos robustos de 7% ao ano (quando a economia do País avançava com força até antes da crise global, quando os projetos foram idealizados)", disse o integrante da alta administração.

Há ainda uma sobra de capacidade de refino no mundo, o que reduz as margens de lucro das refinarias. Parte da produção delas teria de ser exportada, a preços baixos. Além disso, o custo do frete tornava os projetos menos atrativos, já que os polos de maior consumo de derivados estão na Ásia, longe do Brasil.

"Os projetos deixaram de fazer sentido. A Petrobras ia perder mais dinheiro ainda com esses projetos do que o valor lançado no balanço".

A estatal também deixou de lado a ideia de construir as refinarias para poupar seu caixa e não mais fazer desembolsos para os empreendimentos, no momento em que sofre ameaça de perder o grau de investimento em seus títulos (o que aumenta o custo de captar recursos) e não tem seu balanço auditado - o que pode provocar que credores peçam o pagamento antecipado de suas dívidas.

A desistência dos empreendimentos também contrariou o interesse dos governos aliados de Dilma no Ceará e Maranhão, controlados por PT e PCdoB, respectivamente. O fato trouxe problemas adicionais ao Planalto.

Fonte de risco

Os setores de petróleo e gás e construção representam uma fonte de risco para os bancos brasileiros, avalia a Fitch Ratings em uma teleconferência ontem. As instituições financeiras mais expostas são as de pequeno e médio porte e bancos públicos que continuaram aumentando os empréstimos para esses segmentos, avalia o diretor da agência de rating, Alejandro Garcia.

"O setor de petróleo e gás permanece uma fonte de risco, por conta do menor nível esperado de investimentos e dos efeitos potenciais do contágio das investigações das denúncias de corrupção (na Petrobras)", disse, destacando que as perspectivas para as construtoras também não são nada animadoras.

Câmara vai avaliar projeto cancelado

Brasília. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha aprovou ontem a criação de uma Comissão Externa da Câmara para avaliar toda a problemática do cancelamento das instalações das refinarias da Petrobras no Ceará e Maranhão e os impactos desta decisão nos dois Estados. O requerimento foi de autoria do deputado cearense Raimundo Gomes de Matos e os nomes que comporão esta Comissão Externa só serão indicados depois do Carnaval, quando ela passará a funcionar.

A Comissão vai apurar apenas os problemas destas duas CPIs. Gomes de Matos lembrou que esta é a segunda vez que a Petrobras dá o calote no Ceará. "O primeiro foi quando se recusou a fornecer o gás natural para a siderúrgica e agora com a refinaria. O Estado investiu, as coisas não podem ficar assim".

Na última quarta-feira o governador do Ceará, Camilo Santana esteve reunido por quase uma hora com o ministro-chefe da Casa Civil, Aloysio Mercadante. Antes do encontro era esperado que eles tratassem do assunto da refinaria. Ao fim da reunião, por meio de sua assessoria, Camilo informou que tratou do problema das adutoras no Estado.

Sem respostas

O silêncio do Planalto quanto à situação do Ceará está indignando os deputados cearenses. Muitos cobram a data em que a presidente Dilma Rousseff vai receber o governador cearense para tratar da questão do cancelamento da refinaria. Vários parlamentares tentaram obter do governador alguma informação sobre seu encontro com Mercadante e também tiveram a resposta de que a questão da refinaria não foi tratada. Para os deputados, este foi um mau sinal, como salientou Gomes de Matos.

O cancelamento do projeto da refinaria foi anunciado pela Petrobras, na última semana, em balanço divulgado pela estatal. O documento informava que, no último dia 22 de janeiro, a companhia decidiu encerrar os projetos de instalação tanto da refinaria cearense quanto a do Maranhão, a Premium I.

CPI e 'Lava-Jato' dificultam sucessão

Brasília. A corrida contra o tempo da presidente Dilma Rousseff para encontrar um nome com credibilidade no mercado para reerguer a Petrobras ganhou ontem dois novos obstáculos: a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados para apurar desvios na Petrobras e a deflagração da nona etapa da Operação Lava Jato.

Os dois elementos reforçam o que é apontado nos bastidores como o maior empecilho a encontrar um substituto para a atual presidente, Graça Foster: o risco de surgirem irregularidades ainda não detectadas. Dilma passou o dia em contatos para encontrar um nome, auxiliada pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante.

A intenção do Planalto é anunciar a nova diretoria hoje, na reunião do Conselho de Administração da estatal, na qual será formalizada também a saída de cinco diretores e da própria Graça.

O nome mais cotado continuava sendo o do presidente da Vale, Murilo Ferreira. Com boa reputação no mercado, o executivo conta com a simpatia de Dilma e de Mercadante. É apontado também como alguém capaz de fazer mudanças fortes na condução da Petrobras. Seria capaz de produzir um efeito semelhante ao que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, gerou em relação à política econômica.

Segundo se comenta nos bastidores, Ferreira também teria mais dificuldade em recusar a missão de chefiar a Petrobras nesse momento de incertezas do que outros executivos de mercado. Isso porque ele está na Vale, uma empresa que tem entre seus principais acionistas os fundos de pensão das empresas estatais federais. Assim, o poder de pressão do Planalto sobre ele é um pouco maior.

Na indefinição, outros nomes continuavam no páreo: Luciano Coutinho, Rodolfo Landim e o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles.

Dólar recua, e Bolsa fica estável

São Paulo. No mercado cambial, o dólar fechou com tendências mistas em relação ao real. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, caiu 0,31%, para R$ 2,738. O dólar comercial, usado no comércio exterior, fechou em leve alta de 0,10%, para R$ 2,745. "O dia foi extremamente volátil. Há um sentimento no mercado de que o governo desejaria o dólar em um patamar mais elevado, em torno de R$ 2,75, por causa dos problemas econômicos sérios que o país enfrenta no setor externo", diz Sidnei Nehme, economista e presidente da NGO Corretora.

"Ao deixar o dólar subir, o governo tenta ver se a indústria ganha ânimo, podendo eventualmente aumentar a competitividade para exportar e também reconquistar o mercado interno", analisa. Na manhã de ontem, o Banco Central brasileiro vendeu 2 mil contratos de swap cambial (equivalentes à venda de dólares no mercado futuro), dando seguimento a sua série de atuações diárias no mercado cambial. Foram vendidos mil contratos para 1º de dezembro de 2015 e mil contratos para 1º de fevereiro de 2016, com volume correspondente a US$ 98,1 milhões.

Zero a zero

Já a Bolsa brasileira fechou perto da estabilidade, afetada pela queda de mais de 2% das ações da Petrobras, que interromperam sequência de três altas. A desvalorização dos papéis da Vale também pesou no mercado acionário local.

O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou ontem com leve queda de 0,14%, a 49.233 pontos, após um pregão instável. Na máxima, a Bolsa chegou a subir 1,04%, e na mínima, caiu 0,57%.

Rose Ane Silveira - Repórter

Fonte: Diário do Nordeste