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Publicado em: 05/03/2015

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Desempenho do setor industrial avança 2%

A produção industrial brasileira esboçou uma reação e cresceu 2% em janeiro, na comparação com dezembro. Contudo, na comparação com janeiro de 2014, o comportamento registrado aponta queda de 5,2%, após uma retração de 2,9% nesse indicador em dezembro. Com isso, o setor acumula uma perda de 3,5% em 12 meses encerrados em janeiro. Os dados constam da Pesquisa Industrial Mensal – produção Física (PIM-PF), e foram divulgados, ontem, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Conforme o levantamento, no último mês do ano passado, a retração havia sido de 3,2%. Revisado para baixo, o dado apontava, originalmente, uma queda de 2,8%. Com a mudança do dado de dezembro, o resultado de 2014 também foi revisado e ficou um pouco mais negativo e, com isso, a queda passou de 3,2% para 3,3%.

O resultado de janeiro foi o maior desde junho de 2013, mas não compensa a perda do mês anterior. A expansão já era esperada por analistas, que a enxergam como uma recomposição parcial sobre uma base muito fraca. Para analistas, a indústria viverá, em 2015, mais um ano de queda da produção. Em 2014 a perda registrada foi a maior desde 2012. No ano passado, o emprego na indústria também fechou com queda de 3,2%, o pior resultado desde 2009.

Fatores

Dentre os motivos para o fraco resultado do ano passado, estão o acúmulo de estoques em importantes setores, como veículos, consumidores e empresários mais pessimistas com o cenário econômico – o que posterga decisões de compras e investimentos. Com esse quadro, algumas empresas já adotaram medidas como demissões, corte de turnos, suspensão de contratos de trabalho ou férias coletivas para lidar com a conjuntura desfavorável.

O mesmo cenário, dizem, deve se repetir neste ano, com os agravantes da possível freada mais forte da economia global e a crise da Petrobras –, que paralisou investimentos e afeta toda a cadeia de óleo e gás e de parte da construção civil –, que demanda insumos e máquinas da indústria. O mercado de trabalho também deve piorar neste ano, em janeiro – pois a taxa de desemprego subiu acima das expectativas e superou a marca do mesmo mês do ano passado – e o crédito tende a tornar-se mais caro, fatores que devem restringir mais o consumo, que já está em declínio.

Setores

De dezembro para janeiro, a atividade industrial mostrou resultados positivos em duas das quatro grandes categorias econômicas e em 13 dos 24 ramos pesquisados. A reação da indústria foi puxada pelo maior ritmo de atividade de importantes setores, como o de alimentos (3,9%), máquinas e equipamentos (7,6%), metalurgia (5,4%), máquinas e aparelhos elétricos (9%) – uma vez que todos apresentaram quedas de destaque em dezembro. A indústria extrativa, com alta de 2,1%, também ajudou a impulsionar o setor industrial graças à maior produção de petróleo bruto. O ramo ampliou o crescimento frente a dezembro (alta de 0,9%).

Já as quedas mais expressivas de dezembro para janeiro ficaram com perfumaria e produtos de limpeza (4,8%), derivados de petróleo e biocombustíveis (5,8%) e vestuário e calçados (5,8%). Pesaram ainda na queda da produção fatores como inflação em alta, custo maior com energia (algumas fábricas decidiram parar, para não ter prejuízo), invasão de produtos importados num período de fraca demanda mundial e exportações em declínio.

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Entre as grandes categorias econômicas, os bens de capital, ao avançarem 9,1%, assinalaram a expansão mais acentuada em janeiro de 2015 sobre dezembro de 2014, influenciada, principalmente, pela maior produção de caminhões, após a concessão de férias coletivas em várias unidades produtivas no mês anterior. Esse crescimento foi o mais intenso desde julho de 2014 (14,7%) e recuperou parte da redução de 13,4% acumulada entre outubro e dezembro últimos. O segmento de bens intermediários (0,7%) também mostrou taxa positiva nesse mês e interrompeu o comportamento predominantemente negativo presente desde setembro de 2014, período em que acumulou perda de 2,6%.

Por outro lado, os setores produtores de bens de consumo duráveis (1,4%) e de bens de consumo semi e não duráveis (0,3%) registraram os resultados negativos, ambos com a quarta redução seguida, acumulando, nesse período, quedas de 8,2% e de 4,3%, respectivamente. Na comparação com janeiro do ano passado, a produção de bens duráveis recuou 13,9% – classe que teve influência negativa de automóveis, cuja produção diminuiu 13,9%, eletrodomésticos (15,8%); itens da linha branca – geladeira, fogão (0,5%); linha marrom (TVs, DVDs, aparelhos de som) com 30,4%, além de móveis (4,6%). No caso dos semi-duráveis, as quedas mais expressivas foram em vestuário (14,3%) e produtos farmacêuticos (13,2%).

Alta de janeiro não reverte perdas do setor

Na avaliação do gerente da coordenação da indústria do IBGE, André Macedo, apesar do avanço de 2% em janeiro, na comparação com dezembro, a produção industrial ainda apresenta resultados negativos em grande parte dos setores pesquisados. “A alta é boa, mas não animadora. É um aumento de ritmo, mas não altera em nada o panorama de menor intensidade que a produção industrial nos mostra”, ressaltou.

O gerente analisou que o resultado positivo do mês – puxado pela produção de alimentos, principalmente por causa da colheita de cana de açúcar da safra no Norte e Nordeste – acontece sobre uma comparação baixa e tem uma questão importante da volta de trabalho após as férias de dezembro. “Não recupera a perda recente e tampouco reverte o desempenho negativo. A média móvel trimestral, com redução de 0,8%, permanece numa trajetória descendente”, completou Macedo.

Por fim, o comportamento da atividade para os próximos meses deve manter retração, segundo o especialista. “O baixo índice de confiança do consumidor, a restrição nas rendas das famílias, na medida que está mais comprometida com dívidas, o crédito mais caro acaba jogando contra, e o cenário econômico internacional permanece num campo adverso”, finalizou.

Fonte: O Estado do Ceará