PELA PRIMEIRA VEZ - Levy faz crítica direta a Rousseff
Segundo o ministro, a presidente não faz as coisas da maneira mais simples e eficaz, apesar de ser bem intencionada
São Paulo. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou na última terça-feira (24), em evento a portas fechadas em São Paulo, que, embora seja bem-intencionada, a presidente Dilma Rousseff nem sempre faz as coisas da maneira mais simples e eficaz. "Acho que há um desejo genuíno da presidente de acertar as coisas, às vezes, não da maneira mais fácil... Não da maneira mais efetiva, mas há um desejo genuíno", disse o ministro da Fazenda.
No último sábado (28), o ministro afirmou que a frase foi tirada de contexto e reclamou da interpretação. A declaração - a primeira em que Levy direciona uma crítica especificamente ao nome da presidente em público - foi dada em clima informal a uma plateia de dezenas de ex-alunos, da escola de negócios da Universidade de Chicago, instituição onde Joaquim Levy se graduou Ph.D.
O diálogo ocorreu em inglês, idioma de alguns dos espectadores, e a frase original foi: "I think that there is a genuine desire by the president to get things right, sometimes not the easiest way, but... Not the most effective way, but there is this genuine".
Críticas
O ministro já tinha feito críticas à gestão da presidente nos últimos meses, mas nunca à sua pessoa. No final de fevereiro, quando anunciava novas medidas de seu ajuste fiscal, ele usou expressões duras contra o programa lançado no primeiro mandato para desonerar a folha de pagamento.
Na ocasião, ele disse a jornalistas que as medidas anteriores foram grosseiras, uma "brincadeira"; que havia custado caro aos cofres brasileiros e que não tinha gerado resultado equivalente na proteção dos empregos.
Dias depois, recebeu um puxão de orelha da presidente, que disse a jornalistas ter considerado infelizes as declarações do ministro.
Na terça passada (24), o contexto da afirmação foram observações já reiteradas nos últimos meses, por Levy, sobre a condução da política econômica no primeiro mandato. Ele descreveu o governo como "ciente dos erros cometidos"; e em consenso sobre a necessidade de mudanças. Citou um "processo de aprendizado" e disse que há vigilância para evitar novos equívocos.
"Erros do passado"
A pergunta da plateia que levou o ministro a mencionar a presidente abordou as mudanças em curso e a equipe do Fazenda. Em eventos recentes com empresários, o discurso do ministro em defesa do ajuste fiscal têm passado pelo que ele se refere como erros do passado. Em palestra a executivos de multinacionais, há um mês, Levy chegou a dizer que o País deu uma "escorregadazinha" no campo fiscal, mas que a responsabilidade nas contas públicas foi retomada.
Vocabulário
O vocabulário usado por ele costuma carregar ironias, como em recente entrevista à Folha, quando defendeu as medidas adotadas, fazendo comparação indireta com o regime que fez a presidente perder peso. No evento de terça, fez gargalhar a plateia ao se referir aos congressistas como "novos amigos".
Fonte: Diário do Nordeste