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Publicado em: 01/12/2014

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JOSÉ CLÁUDIO SECURATO - Sinônimo de finanças

Securato preside a Saint Paul, escola de formação de executivos de renome internacional. Ele fala sobre estratégias para crescimento das empresas

Desde jovem, José Cláudio Securato esteve ligado à educação e às finanças. Filho do professor José Roberto Securato e da professora Sílvia Bruno Securato, estudou economia e direito na graduação e seguiu carreira acadêmica e no mercado. Os irmãos José Roberto Securato Júnior e Andréa Silvia Securato também estão ligados à educação. “O sobrenome Securato acabou virando um sinônimo, uma coisa muito próxima de finanças”, define.

A área de educação em finanças é a preferida do doutor em administração e diretor da Saint Paul Escola de Negócios, considerada uma das melhores do mundo pelo Financial Times. Em Fortaleza, a escola de negócios possui parceria com o Instituto Fa7.

De acordo com Securato, as empresas que mais investem em educação conseguem se desenvolver mais rápido. Setor bancário, construção civil e laboratórios farmacêuticos têm alto investimento em educação. Desenvolver profissionais desde a graduação, formando estagiários e trainees para se tornarem os futuros CEOs é uma estratégia que dá resultado, de acordo com ele. “Quando ele entra no nível gerencial, ele é um gerente com as habilidades corretas, com a cultura correta e capacidade produtiva.” O profissional deve ter um plano de carreira, recomenda Securato.

 

O POVO - O senhor vem de uma família de tradição acadêmica. O quanto isso o influenciou?

José Cláudio Securato - Eu vim de uma família que estudou bastante. Meu pai foi engenheiro, matemático, fez mestrado, doutorado em matemática, administração, é professor titular da USP e da PUC de São Paulo. Minha mãe fez mestrado e doutorado também. Então, é uma família que estudou bastante. Meu pai fez uma carreira no mercado financeiro e faz uma carreira na USP e na PUC. A entrada em educação veio muito desse viés. Meu pai que plantou essa semente. Eu me graduei em economia e direito. Fiz faculdade de economia de manhã e direito à noite. Foi ao mesmo tempo e trabalhava à tarde. A ideia do meu pai era simples: quando você é jovem, você não pode ter tempo ou então você faz besteira. É melhor deixar o filho ocupado.

 

OP - Com o que o senhor trabalhava nessa época?

Securato - Trabalhei no mercado financeiro. Depois, fui contratado por uma empresa do mercado financeiro. Meu objetivo era trabalhar no exterior, em Nova York, mas entre um trabalho e outro eu fui trabalhar com meu pai. Trabalhava com educação já para executivos. E durante umas férias que eu passei com ele, acabei não saindo mais.

 

OP - Gostou da área?

Securato - Gostei de trabalhar com executivos. A Saint Paul já existia. Era uma consultoria e uma editora. Em 1996 começou a consultoria e em 1998 a editora.

 

OP - A Saint Paul já era da família?

Securato - Exatamente. Já era da família. Em 2002 foi quando eu fui buscar a área de educação para desenvolver focando em programas de educação para executivos de uma forma geral.

 

OP - Quanto as empresas investem na educação dos executivos?

Securato - O investimento é muito grande. O percentual varia muito de empresa para empresa. Tem grandes companhias que investem R$ 100, R$ 200 milhões por ano em educação. Algumas outras investem um pouco menos. Mas a gente estima que em torno de R$ 2 bilhões em desenvolvimento de pessoas, de executivos de forma geral. A educação é muito mais se você pensar que tem a educação da fábrica, sai do ramo exclusivamente de executivos. Mas de executivos é um volume bem grande.

 

OP - Esse volume continua crescendo apesar do cenário instável na economia?

Securato - Cresce porque uma coisa hoje muito importante para as empresas é produtividade. E ela só é conquistada quando as pessoas conseguem fazer mais com menos recursos e para o individuo fazer mais e usar menos recursos, ele tem que estar bem preparado. No fundo, o desenvolvimento de pessoas em médio e longo prazo acaba sendo um investimento muito barato. Melhora as pessoas, elas entregam mais, a empresa consegue reter essas pessoas por todo o investimento em educação. Eu acho que o Brasil avançou muito nesse sentido. As empresas brasileiras avançaram muito. A gente tem ajudado muito empresas brasileiras a fazerem o que se chama de universidades corporativas, a fazerem verdadeiras escolas de negócios dentro das empresas. Não quer dizer que eles mesmos vão ensinar, mas serve para organizar a educação dos alunos.

 

OP - É possível quantificar quanto seria a economia da empresa a partir do investimento em pessoas?

Securato - Essa é a grande pergunta: quanto é que é o retorno sobre o capital investido em educação especificamente no mundo executivo. Não existe uma resposta ainda fundamental para isso. O Brasil e o mundo estão investigando isso. Na Saint Paul, temos um grupo que estuda isso. O que a gente já conseguiu fazer com alguns clientes, que eu ainda não posso revelar porque não temos o resultado ainda, mas o que eu posso dizer é que selecionamos dois grupos de populações: um grupo com treinamento e um sem treinamento. O que a gente tem conseguido visualizar é que o ganho de produtividade, de resultados é muito maior de quem tem treinamento.

 

OP - E os percentuais?

Securato - Os percentuais começam a ser em torno de 20%, 30%, mas a pesquisa ainda não acabou. É uma forma barata, principalmente para serviços, porque a tecnologia é a de pessoas. Você não tem uma máquina para operar melhor. Nos serviços tem uma importância maior. O que a gente quer é medir o ROI (return on investment, em inglês. Retorno sobre investimento, na tradução). Está sendo feito dentro de um grupo de estudos da Saint Paul que ainda não tem resposta, mas a gente está conseguindo chegar perto de fazer uma fórmula, um método para que quando uma empresa invista R$ 1 mil em educação, ela saiba quando será o retorno por setor.

 

OP - Está sendo utilizado em que setores?

Securato - Setor bancário e indústria. Analisamos uma indústria e um serviço. O setor bancário foi escolhido porque é o maior investidor em pessoas de forma geral, volume de investimentos muito grande, até porque é um grande empregador. É um setor muito sofisticado, então é um grande educador. E pegamos uma fábrica porque a fábrica porque embora tenha tecnologia, queremos ver a diferença entre os setores.

 

OP - As empresas que mais investem em educação conseguem se desenvolver mais rápido?

Securato - Com certeza porque tem uma formação de capital a longo prazo. E tem uma coisa legal. Você olhando uma empresa em um horizonte de tempo amplo, ela consegue formar as pessoas para o futuro. Vamos pegar dois setores: uma empresa que não tem um processo de formação bem consolidado, quando ela cresce, precisa contratar gerentes, diretores de fora. Mas ela paga caro por essas pessoas. Empresas que investem em educação de longo prazo conseguem fazer algo diferente. Elas formam essas pessoas em longo prazo e isso é muito legal porque a pessoa já tem a cultura da empresa, já tem a vivência, conhece muito mais o negócio.

 

OP - Essa é a tendência? Formar os CEOs, os diretores a partir dos estagiários?

Securato - Com certeza. Não é à toa que muitas empresas fizeram programas de trainee muito parrudos, muito bem desenvolvidos. Na Saint Paul, nós treinamos muitas empresas e ajudamos as empresas a desenvolver os programas de trainee. Porque o jovem na graduação, no final da graduação, tem a oportunidade de uma carreira rápida, e o jovem busca isso, uma ascensão com velocidade. Por outro lado, a empresa consegue contribuir para a formação desse jovem e ao mesmo tempo adequar a cultura da empresa à cultura do jovem. Quando ele entra no nível gerencial, ele é um gerente com as habilidades corretas, com a cultura correta e a capacidade produtiva.

 

OP - Qual é o segredo para que o mesmo profissional continue crescendo, se desenvolvendo no decorrer do tempo? Porque, às vezes, o profissional vai perdendo o estímulo...

Securato - Claro. Chama isto de educação continuada. A educação tem que ser para sempre. Eu fiz as duas graduações, fiz um MBA de Finanças, fiz mestrado e doutorado e nem por isso paro de estudar. Eu continuo estudando e me reinventando o tempo inteiro. Hoje um jovem faz a graduação e depois precisa encontrar aquilo que ele quer fazer de profissão. A gente entra muito cedo na graduação. Quando termina a graduação, a gente acha um emprego, cria um negócio e esse negócio começa a dar certo, a carreira começa a dar certo. Dois anos depois, é recomendável que esse profissional volte aos bancos para fazer um programa de pós-graduação. O ideal é que ele faça um programa na especialidade que ele escolheu. Se for marketing, técnico em marketing, se for finanças, técnico em finanças e assim por diante. Essa fase é uma fase em que ele precisa ficar forte em termos técnicos. O que se espera dele é uma solução técnica. Ele é o tipo de colaborador individual. Não que ele trabalhe sozinho, mas ele responde pelo trabalho dele sozinho. Ou seja, ele não é um chefe.

 

OP - Ele está fazendo o nome dele...

Securato - Isso. Ele está fazendo o nome dele. Ele trabalha em um time, tem uma determinada função e o papel dele é chegar no horário e cumprir aquela função. Conforme ele vai evoluindo, a carreira dele melhora e ele vai coordenar o trabalho de outras pessoas que fazem aquilo. Então, no mundo de finanças por exemplo, ele não vai mais fazer o relatório, ele vai coordenar o relatório feito por outras pessoas porque ele já aprendeu a fazer o relatório muito bem. Ele superou as dificuldades de fazer um relatório. Então ele treina, capacita pessoas mais jovens que ele. Nessa etapa, ele precisa estar com um curso de pós-graduação concluído porque nessa fase o nível técnico exigido é muito mais alto. Em um outro nível, quando ele vai para um cargo de gestão de pessoas, ele precisa de um MBA, que é um curso que exige mais nesse sentido porque gerenciar pessoas já chega em um nível mais sofisticado.

 

OP - Seria mais ou menos depois de uns cinco anos de carreira?

Securato - Com cinco anos de carreira seria uma boa média. Se a carreira for mais rápida, vai ser em quatro, se demorar mais, vai ser em sete. Depende do setor, do tamanho da empresa, de uma série de variáveis, mas cinco anos é uma boa média.

 

OP - As empresas estão contratando mais mestres e doutores?

Securato - É exatamente isso que está acontecendo. Normalmente, o mestrado e o doutorado era recomendado para quem queria seguir carreira acadêmica. Agora quando a gente pensa no mercado de trabalho, há exigência às vezes por profissionais muito especialistas e elas têm recorrido aos profissionais de mestrado, principalmente. E, eventualmente, doutorado. Se precisa de um especialista para uma área sofisticada, uma área de risco. Nesse caso, a elevação da carreira além de gestor, continua sendo um técnico importante. Não é apenas um trabalho que o curso de especialização possa fazer, aí o mestrado resolve bem. E as empresas estão muito satisfeitas chamando profissionais de dentro da universidade para trabalhar também.

 

OP - Está havendo uma mudança dentro da própria universidade? A universidade está olhando mais para o mercado e vice-versa? São mais parcerias?

Securato - Há muitas parcerias também. As universidades têm cada vez mais recrutado profissionais do mercado e muitos alunos das universidades têm ido para o mercado. É um casamento muito feliz e que deve se prolongar por muito tempo. O Brasil cresceu muito e se desenvolveu bastante. Então, o nível dos serviços está muito mais complexo. Isso vai exigir mais envolvimento dos mestrados e doutorados. Por outro lado, o que a gente tem feito na escola de negócios é sofisticar o programa de pós-graduação e de MBA. São importantes porque o programa que a gente dava há dez anos não é mais o mesmo. A gente tem um programa muito mais difícil. Vai muito mais longe, muito mais profundo, até se aproximar do que a gente tem no mestrado.

 

OP - Quais as necessidades dos executivos cearenses?

Securato - Os executivos cearenses são bons executivos, fazem programa de pós-graduação há bastante tempo. Eles já compreenderam onde o programa de pós-graduação se encaixa na carreira. O executivo é exigente no programa de pós-graduação. A gente entende que três vertentes são muito importantes: finanças, mas não um programa introdutório, mas mais um programa sofisticado, mas aprofundados. Também nos mestrados e doutorados os programas de finanças são programas fortes. Então, já é por definição um estado que forma pessoas boas. Então, nós trouxemos o programa de finanças para trazer um programa mais complexo, mais profundo, inclusive com a opção de um módulo internacional com um de nossos parceiros nos Estados Unidos.

 

OP - Os executivos cearenses querem investir mais em exportação?

Securato - Sem dúvidas. O Ceará é o terceiro maior estado em investimento do Brasil. É um estado que tem perspectiva de crescimento acima da média do Nordeste e acima da média Brasil. O empresariado está de olho nessas alternativas de crescimento, por isso a estratégia é tão importante. Na pós-graduação de estratégia, conseguimos olhar macro e na outra pós-graduação que estamos trazendo, que é de inteligência de mercado, a gente consegue olhar o micro. Então isso é muito legal porque em uma pós-graduação em que eu vejo o macroambiente, a economia, estratégia, como faz para se desenvolver, a gente consegue fazer uma boa macro gestão e dar os direcionadores da empresa. Para conseguir chegar nesse objetivo que já foi determinado, a outra pós-graduação de inteligência de mercado serve para conhecer a estratégia micro-econômica para percorrer e seguir o caminho mais estratégico.

 

OP - A Saint Paul já foi escolhida várias vezes como uma das melhores escolas para executivos do mundo. Quais as expectativas para expansão?

Securato - Este foi um ano muito importante para nós. Fizemos essa parceria com a Fa7 para sair pela primeira vez de São Paulo. São aproximadamente 10 mil alunos por ano, temos um volume muito grande de pessoas. Mas a gente sabe que o País tem uma demanda muito grande por educação. Vamos fazer uma expansão e temos 20 cidades em mente. Começamos por Fortaleza. Estamos muito felizes de poder ter feito a primeira cidade em Fortaleza. Foi muito significativo. Os primeiros três programas de Pós Graduação lançados em setembro/outubro, Programa de Pós Graduação em Estratégia Empresarial (Certificate in Business Strategy), Pós Graduação em Inteligência de Mercado (Certificates in Market Intelligence) e o MBA em Finanças, já iniciaram suas aulas com cerca de 20/25 alunos por turma.

 

OP - Qual a expectativa de número de alunos?

Securato - Estamos planejando os cursos para o primeiro semestre 2015. Teremos a manutenção desses programas lançados em 2014 e a inclusão de novos Certificates e MBAs já em março de 2015. O número de alunos deve aumentar portanto pelo aumento do número de turmas. O Instituto Fa7 e a Saint Paul também planejam uma abordagem conjunta nas 100 maiores empresas do Ceará para construção de parcerias em programas in company. O resultado das primeiras reuniões foi muito positivo e as propostas estão se transformando em negócios gradativamente.

 

OP - Quais são suas perspectivas para o cenário econômico de 2015?

Securato - Minha tese é que o Brasil precisa retomar confiança. Com confiança, a gente consegue retomar o caminho do crescimento econômico e ter ganhos periódicos de reformas, de conquistas no fundo para melhorar o País como um todo. A confiança é muito importante porque vai fazer com que a gente traga investimentos internacionais para o Brasil e que o empresariado local brasileiro invista com mais rigor, sem medo do retorno. Para isso acontecer, o Governo vai ter que comunicar melhor, principalmente no lado econômico quais são essas mudanças. Eu não acho que o Brasil tem que partir para reformas mirabolantes, que são reformas importantes. Reforma da previdência, tributária, política, trabalhista são reformas muito importantes, mas eu acho que hoje elas têm que ficar para um segundo plano. O que o Brasil precisa é retomar confiança, o que significa que precisa restabelecer o tripé macroeconômico, comunicar corretamente as políticas monetárias, comunicar o posicionamento do Banco Central como independente, autônomo, em que nível, de que forma. Responder de forma mais correta pela área fiscal do País. O Brasil não pode ter uma contabilidade criativa como é chamada.

 

OP - O empresariado brasileiro de uma forma geral é cauteloso?

Securato - Sim. E os cem primeiros dias de Governo Dilma vão ser importantes para a gente entender se as propostas são boas e se serão implementadas e se 2015 será suficiente para que esses ajustes façam efeito em 2016, 2017, 2018. Se os 100 primeiros dias forem positivos, o PIB começa a crescer, voltaremos a gerar empregos e os outros dados macroeconômicos começam a melhorar. O Governo Dilma será avaliado não só pelas nomeações, mas pela liberdade que dará aos seus ministros da Fazenda e Planejamento, bem como ao presidente do Banco Central. Os resultados que o mercado avaliará são voltados para capacidade do Governo manter as notas de risco dadas pelas principais agências internacionais. Para isso será preciso: recuperar o tripé macroeconômico, ou seja, restabelecer e cumprir metas para o superávit primário, manter o câmbio flutuante e recuperar a credibilidade do sistema de metas de inflação, buscando o centro da meta.

 

OP - Qual a relação do brasileiro com a macroeconomia?

Securato - A gente tem muito acesso à informação, o que não quer dizer que a gente entende a informação. Toda vez que se tem uma matéria específica sobre algum dado econômico às vezes assusta as pessoas que não estão tão familiarizadas. Mas o brasileiro está cada vez mais interessado e percebe que tem a ver com seu dia a dia. Isso aumenta o interesse e a busca de informação.

 

Repórter: Teresa Fernandes

Fonte: Jornal O Povo