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Publicado em: 23/11/2015

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Sem mudanças profundas, crise deve piorar em 2016

Com a recessão e a crescente inflação motivadas pela política econômica e crise política do atual governo, o professor de Macroeconomia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Marcelo Callado, aponta que a provável queda do ministro da Fazenda e a entrada de outro que o substitua não irá trazer grandes alterações na economia do País, se não houver uma mudança das políticas estruturais que revertam a situação do Brasil.

Do mesmo modo, a saída da presidenta Dilma não implicaria em mudança, se o imediato substituto, o vice-presidente Michel Temer, optar pela continuidade dessas políticas. “Dependeria de quem fosse para o lugar dela e da visão de como iria desejar a reversão das políticas – se seriam mudanças profundas, estruturais, ou só mudança de nomes. Se o Michel Temer continuar com as mesmas políticas que a Dilma praticou e causaram esse problema, não haveria nenhuma mudança. A questão é menos de pessoas e mais de políticas, que precisam ser revertidas e o processo de reversão deve ser continuado, porque, dificilmente, a pessoa que reverter essas políticas vai conseguir apoio”, avaliou o especialista.

Contexto

Callado observa que Joaquim Levy, quando assumiu o Ministério da Fazenda era contrário a tudo o que o Governo representa. “Se pegarmos os próprios debates presidenciais do ano passado, o Levy representa o contrário do que foi defendido nos debates e, então, ele é um personagem que não se encaixa muito bem nesse governo”, disse ele, referindo-se ao desgaste pelo qual está passando Levy.

O ministro, explica o professor, tinha uma missão, que era tentar reverter uma política fiscal que o Governo vem praticando desde, mais ou menos, o final de 2008. O governo Lula abandonou o tripé macroeconômico e passou a praticar uma política fiscal muito agressiva. “Quando houve a eleição da presidente Dilma, ela também passou a praticar a política monetária de redução da taxa de juros nominal, e, tudo isso, trouxe uma série de desequilíbrios. A gente tem hoje uma inflação de dois dígitos, acima de 10%, nos últimos 12 meses, e um déficit fiscal explosivo, que está gerando um aumento avassalador da dívida pública” acrescentou Marcelo.

Desgaste

Diante desse cenário, Joaquim Levy foi chamado na tentativa de reverter essa política desastrosa que está gerando recessão e a volta da inflação. “Pode ser que, politicamente, ele esteja desgastado, porque ele é uma única pessoa contra todos os outros do Governo que, consensualmente, pensam que a melhor política era aquela praticada de 2009 até o ano passado”, ponderou o especialista.

Segundo ele, o grande problema, agora, é que qualquer pessoa que for assumir o lugar do ministro, em uma possível queda, vai se deparar com o mesmo desgaste que ele está se deparando. “Do ponto de vista da macroeconomia, o Joaquim Levy tentou fazer um ajuste fiscal, aumentar impostos e cortar gastos. Ele fracassou no corte de gastos, tentando aumentar um ou outro imposto, como a volta da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), mas, em um momento de recessão atual, é provável que ele fracasse nisso, e qualquer pessoa que vá substituí-lo, infelizmente, vai tentar fazer a mesma coisa”, salientou.

Entraves impedem reversão do cenário

Segundo o professor, geralmente, quando há uma recessão tão profunda, como a que estamos tendo, é natural que, no ano seguinte, as coisas se revertam, por uma questão até de estatística. “Quando se tem uma redução de determinado montante, como nesse ano – com uma recessão de, aproximadamente, 3% do PIB (Produto Interno Bruto) –, a partir do ano que vem a base é mais baixa, então crescer a partir dessa base é mais fácil do que crescer a partir de uma base mais alta”, explica Marcelo. Contudo, “infelizmente, a gente também tem um problema sério de confiança”, pontuou.

Com relação a esse problema, vem outro muito grande, que é o fato de que só há crescimento econômico se as empresas investirem. Como as empresas se deparam com um ambiente de incertezas, ficam muito reticentes em investir, porque o risco do investimento é muito grande. O risco, segundo o especialista é que “elas podem investir e o Governo, de uma hora para outra, sinalizar que vai aumentar impostos – e, aí, todo o cálculo do plano de negócios e o retorno do investimento é arriscado a qualquer momento”.

Perspectivas

Na opinião do professor da UFC, não existe qualquer esforço, por parte do poder público, para reverter o quadro sombrio da economia brasileira. “O Governo não está fazendo nenhuma medida que venha a resolver os problemas, de fato, que causaram tudo isso. Ele não procura reverter as políticas causadoras de todo esse problema”, lamenta Marcelo Callado. “O Levy está, muito timidamente, tentando fazer alguma coisa, mas todo o Governo está contra ele, e não vejo, lamentavelmente, nenhuma perspectiva de melhora no curto prazo”, asseverou.

O especialista descarta as chances de melhora econômica nos próximos anos, nem com a saída de Levy ou com a chegada de outra pessoa vá substituí-lo, “porque o trabalho que Levy tinha de fazer, quando foi chamado, ainda está por fazer: um ajuste fiscal profundo, não conjuntural, mas estrutural – que esse Governo, aparentemente, não tem condições de realizar. Não vejo elementos que sinalizem uma saída com essa mudança (no Ministério da Fazenda). Infelizmente, 2016 não será menos ruim, e a maioria dos analistas mostra, também, uma percepção para o ano que vem, quando teremos uma recessão em cima de uma recessão. A tendência é piorar ainda mais, e não melhorar”, finalizou Marcelo Callado.

Fonte: O Estado do Ceará