PRINCIPAL EFEITO - Panama Papers evidenciam insegurança dos dados de clientes de bancas
Por João Ozorio de Melo
O vazamento de 11,5 milhões de registros dos clientes da banca panamenha Mossack Fonseca, já conhecido como Panama Papers, teve apenas um efeito concreto até agora: o de evidenciar que os escritórios de advocacia têm de fazer muito mais do que têm feito até agora para proteger os dados dos clientes.
Essa é a percepção do diretor administrativo para a Europa, Oriente Médio e África da firma de consultoria de risco Kroll Experts, Benedict Hamilton, segundo o site The American Lawyer. Para ele, o que aconteceu com a Mossack Fonseca, poderia ter acontecido com a maioria dos escritórios de advocacia, porque eles não estão tomando as medidas de segurança necessárias para a proteção de dados privados.
“Nenhum escritório pode se proteger totalmente contra um empregado que abusa da confiança e rouba seus dados, mas há medidas que podem ser tomadas para impedir o vazamento de documentos, seja por funcionários ou por hackers”, disse.
Depois da divulgação de parte dos documentos, o Mossack Fonseca disse em comunicado que se declara “vítima” de criminosos cibernéticos que invadiram seu sistema e que tem certeza de que o vazamento não foi um trabalho interno. "O vazamento está sendo investigado e se os hackers forem identificados, eles serão processados.”
Os Panama Papers, que ocuparam 2,5 terabytes de documentos, foram dados ao jornal alemão Suddeutsche Zeitung, que os compartilhou com a organização Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos. Foram necessários 400 jornalistas para trabalhar a primeira leva de documentos divulgados. Muita coisa ainda poderá emergir.
O vazamento dos registros nos Panama Papers ocorreu 48 horas após circularem informações de que 48 escritórios de advocacia foram “atacados” por criminosos cibernéticos, que invadiram (ou tentaram invadir) seus sistemas para buscar informações sobre aquisições e fusões.
Para o advogado Rohan Massey, sócio especializado em privacidade e segurança de dados da banca Ropes & Gray, o risco que os escritórios de advocacia correm de sofrer ataques cibernéticos é “incrivelmente real” e sempre serão alvos de ataques por causa da sensibilidade das informações que detêm.
“Temos de examinar o problema como uma classe profissional. Não tomamos as medidas necessárias porque nosso foco é sempre o cliente, mas precisamos nos adaptar.”
O presidente da Lieberman Software, Philip Lieberman, disse ao site que os clientes, especialmente os mais sofisticados, estão ficando cada vez mais exigentes sobre a segurança de seus dados nos sistemas dos escritórios de advocacia. Por isso, as bancas devem se antecipar e melhorar a segurança de seus sistemas.
"Há algumas bancas que já dispõem de recursos automatizados e adaptáveis de defesa cibernética excelente, mas a maioria ainda são muito vulneráveis."
João Ozorio de Melo é correspondente da revista Consultor Jurídico nos Estados Unidos.
Fonte: ConJur