Nos bancos, o aumento dos juros está atingindo principalmente as linhas de financiamento imobiliário
A dificuldade na tomada de crédito, um dos efeitos esperados com o aumento da taxa básica, a Selic - fixada em 12,75% ao ano, no início do mês -, já deixa marcas em alguns setores da economia. Aliados ao endividamento das famílias, os juros mais altos e o menor número de parcelas disponíveis para financiar uma compra desenham um cenário cada vez mais real de retração no consumo, o que - pelo menos é o que se espera - possa ajudar no controle da inflação.
No comércio, esse impacto deve atingir com mais intensidade os segmentos cujo capital de giro depende do próprio empresário, segundo avalia o economista Alex Araújo. "São os segmentos de semiduráveis, como vestuário, calçados e cosméticos, porque as fontes de financiamento deles também estão reduzindo as parcelas", relaciona.
Adequação
O presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Severino Ramalho Neto, reconhece que o momento é delicado para o varejo, mas encara as dificuldades como "obstáculos a serem vencidos". "O mercado continua vivo, as necessidades de consumo estão presentes, o comércio e a indústria vão ter que se adequar a isso. E o consumidor é sábio, vai saber o momento certo de usar o crédito", explica, acrescentando que esse é um momento bom para que os clientes barganhem descontos.
Terceiro aumento
Levantamento realizado pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) aponta o comércio com a terceira maior variação da taxa de juros para pessoa física entre os dois primeiros meses deste ano (3,03%), fechando em 5,10% ao mês, em fevereiro. O valor, segundo a associação, é o maior desde dezembro de 2011, quando atingiu 5,36% ao mês.
Pessoa física
À frente das taxas do comércio para pessoa física, na escala dos aumentos, estão os juros praticados pelos bancos para o financiamento de automóveis, que chegaram a 1,99% ao mês em fevereiro, um crescimento de 4,74% em relação a janeiro.
Em seguida, os juros do cartão de crédito, que aumentaram 4,01% entre janeiro e fevereiro, fechando em 11,67%, a maior taxa desde julho de 1999, segundo a Anefac.
Financiamento imobiliário
Nas instituições financeiras, a elevação dos juros atinge principalmente as linhas de financiamento imobiliário, como na Caixa Econômica Federal, por exemplo, onde algumas operações de financiamento foram ajustadas ainda em janeiro.
De acordo com a assessoria de comunicação da Caixa, o ajuste vale para as operações residenciais contratadas com recursos da poupança (SBPE). Na nova tabela da Caixa, a chamada taca balcão, no Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) subiu de 9,20% para 11%, enquanto a taxa de relacionamento, ainda na mesma linha de financiamento, foi de 9,10% para 10,70%.
Já no Banco do Brasil, a taxa nominal para aquisição de imóvel residencial é de 4,5% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR), enquanto os imóveis comerciais têm como base a taxa de 9,4% ao ano, além da TR.
Bradesco, Santander, Itaú e Banco do Nordeste não apresentaram alterações nas taxas de juros e prazos de financiamentos, segundo informaram as assessorias de imprensa.
Veículos
No financiamento de veículos, a alta da taxa de juros trouxe junto a redução da quantidade de parcelas, segundo mostra o estudo da Anefac.
Entre fevereiro do ano passado e igual mês de 2015, o prazo máximo de financiamento de veículos reduziu em 12 meses, caindo de 72 para 60 meses.
Dificuldade
Para o presidente da Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores no Ceará (Fenabrave-CE), Fernando Ponte, os prazos não são a maior dificuldade encontrada. "O problema é que os bancos estão muito seletivos, para se aprovar um cadastro, hoje, é preciso que tenha crédito muito bom", esclarece. Apesar desses obstáculos, avalia Pontes, a venda de automóveis, pelo menos no Estado, ainda não foi impactada pelas elevações nos juros.
Subsídio
"As taxas para financiamento de carros são as mais baixas que existem no mercado financeiro, elas são subsidiadas pelas montadoras, que querem vender mais", argumenta Ponte, acrescentando que, no Ceará, as vendas estão em um bom patamar, especialmente por causa dos feirões de veículos.
Jéssica Colaço - Repórter
Fonte: Diário do Nordeste