Movimento de elevação de juros deve continuar
O placar apertado da reunião de quarta-feira do Copom, que aumentou a Selic para 11,25%, não deve ser interpretado como uma divergência entre os diretores do Banco Central sobre a necessidade de elevar os juros. Segundo uma autoridade do governo com trânsito na área econômica, os cinco votos a favor da alta e os três pela manutenção da taxa espelhariam dúvidas sobre o momento mais oportuno para a elevação da Selic, mas não sobre a necessidade do aumento, tendo em vista os riscos inflacionários.
O ajuste da Selic sinaliza "o início de um novo ciclo de aumento de juros, embora ainda seja difícil mensurar sua intensidade e duração". A indicação de piora no cenário para a inflação é puxada pela desvalorização cambial de 10% desde a última reunião do Copom, mas também pela "resistência" das altas de preços. O BC usou esse termo até a ata de julho e o suprimiu a partir de setembro, mas voltou a ver sinais de dificuldade.
O comunicado do Copom não deu indicações de se tratar de um novo ciclo de aperto monetário, mas a descrição feita ao Valor é que, neste momento, tudo indica que novos ajustes virão. O que não está claro para as autoridades do governo é a duração e intensidade desse aperto. Para uma definição do rumo que seguirão os juros será preciso ter um pouco mais de clareza no cenário econômico. Além do tom mais duro adotado pelo Federal Reserve - banco central dos Estados Unidos --, o governo brasileiro leva em conta incertezas internas, como a formação da nova equipe econômica.
Apesar da surpresa, a alta da Selic foi bem recebida pelo mercado financeiro. As taxas futuras passaram a espelhar uma alta da taxa básica de mais de 12% em meados do ano que vem. O movimento fortaleceu o real, a moeda dos emergentes que mais se valorizou ontem em relação ao dólar, que fechou a R$ 2,469, em baixa de 2,42%.
Para a indústria, a alta dos juros e a queda do dólar foi uma decepção, exatamente no dia em que os dados da confiança empresarial registraram a primeira reação favorável em muitos meses. Julio Sergio Gomes de Almeida, ex-secretário de Política Econômica, disse que "a decisão pode abortar um princípio de recuperação do crédito que há muito tempo desejamos e uma ainda incipiente recuperação da indústria".
Fonte: Valor Econômico