MAS PODE SUBIR - BC muda discurso e sinaliza o fim da alta da Selic
11/04/2014.
Na semana passada, o Comitê elevou a Selic para 11% ao ano. O juro vem subindo desde abril de 2013
Brasília/Nova York. Em um discurso mais ameno, o Banco Central (BC) sinalizou que a alta do juro básico da economia pode estar perto do fim. Na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC retirou a palavra "continuidade" ao falar de ser apropriado ajuste nas condições monetárias. Na semana passada, o Copom elevou a Selic para 11% ao ano. O juro vem subindo desde abril de 2013.
O documento também retirou a palavra "especialmente" ao falar da vigilância da política monetária. A ata ainda reafirmou que os efeitos dessa política são cumulativos e se manifestam com defasagem. A instituição chamou a atenção para o choque de preços dos alimentos in natura e, assim como o presidente do BC, Alexandre Tombini, já havia dito, garante que esse choque é temporário e tende a se reverter nos próximos meses.
Nesta última quarta-feira, 10, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostrou uma aceleração da inflação para 0,92% em março, sendo que o grupo Alimentos foi responsável por mais da metade da alta.
O Copom ponderou na ata, no entanto, que a elevada variação de preços nos últimos 12 meses contribui para a inflação ainda resistente. O Comitê repetiu a informação da ata anterior de que a depreciação e volatilidade da taxa de câmbio vista nos últimos meses permite uma natural e esperada correção de preços relativos e que os movimentos nos mercados de divisas são reflexos da transição dos mercados financeiros.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, em entrevista ao Wall Street Journal durante a reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) disse que uma pausa na elevação dos juros "é uma possibilidade", acrescentando que o fator decisivo para ele nessa decisão será a evolução da perspectiva para a inflação.
Segundo Tombini, a recente alta da Selic ainda está chegando à economia brasileira. O dirigente afirmou também que o esforço para conter a inflação vem sendo ajudado pela garantia do governo de que alcançará a meta de superávit primário e pela recente apreciação do real.
Até eleições, nota do Brasil não sofre risco de recuo
São Paulo. Ainda que a economia brasileira apresente problemas, eles não são suficientes para a Fitch alterar a nota de crédito do Brasil até as eleições. Segundo Rafael Guedes, diretor da agência de classificação de risco no Brasil, o crescimento baixo da economia é um desafio, mas houve avanços recentes. Ele afirma que a política cambial ficou mais flexível desde o ano passado, e a taxa básica de juros está subindo para controlar a inflação.
Além disso, disse, o esforço fiscal de 1,9% do PIB é "menor" mas é suficiente para manter a dívida pública estável ou em leve declínio. Mas ponderou: "o crescimento renitentemente baixo é um problema para o Brasil". Guedes participou de evento do HSBC na Capital paulista.
Políticas Fiscais
Também ontem, a agência disse esperar que o próximo governo brasileiro apoie sua classificação de crédito realizando ajustes de política que melhorem o desempenho fiscal e a confiança dos investidores.
Em uma teleconferência com investidores, a analista Shelly Shetty disse que as principais preocupações da empresa em relação ao Brasil são as baixas taxas de crescimento e a deterioração nas contas fiscais.
A Fitch classifica o Brasil atualmente como "BBB", a segunda menor classificação entre graus de investimento, com perspectiva estável.
Dólar em baixa cotado a R$ 2,19
São Paulo. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, fechou ontem em baixa de 1,08% a R$ 2,191, o menor valor desde 30 de outubro, após a divulgação, nesta quinta-feira pela manhã, da ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária).
No documento, o Banco Central diz que a política monetária deve permanecer vigilante e argumenta que as decisões futuras serão definidas "com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas".
Analista opinam
Na avaliação de analistas ouvidos pela reportagem, isso indica que pode haver novas altas do juro básico, a taxa Selic, para conter a inflação, caso o IPCA (índice de preços oficial do governo) não ceda. A Selic já subiu nove vezes desde março de 2013, quando estava no menor patamar histórico, de 7,25% ao ano para 11% ao ano, agora.
Elad Revi, analista da Spinelli Corretora, acredita que o Copom suba a Selic e mais 0,25 ponto percentual na próxima reunião, em 27 e 28 de maio.
"Acho que tem espaço para isso porque estamos nos aproximando da Copa e das eleições, que são períodos de gastos do governo, que também pressionam a inflação", afirma.
André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, também aposta em uma alta de 0,25 ponto percentual do juro básico da economia. "No fim de maio, o IPCA já vai estar muito perto do teto (estipulado pelo governo, de 6,5% no ano), ou ter até mesmo superado esse patamar. Não tem clima para o Banco Central parar (de subir a taxa). O BC vai ter que dar mais uma alta para o mercado entender que há um processo de vigilância", disse ele, que acredita que a inflação deve chegar a 6,9% em setembro.
A alta dos juros tem dois efeitos sobre a inflação: tende a reprimir o consumo, o que deixa de incentivar aumentos de preço, e atrai investidores estrangeiros, aumentando o fluxo de dólares para o País. Com isso, a cotação da moeda americana cai, o que ajuda também a baixar preços de importados.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste