Líderes do comércio cearense estão receosos com economia
07/04/2014.
Diante de um cenário econômico cada dia mais incerto no Brasil - com a recente elevação da taxa básica de juros, a Selic, inflação crescente, queda nas vendas em vários setores, desconfiança de empresários e consumidores, e a desigualdade entre arrecadações com impostos e retorno em benefícios à população -, as perspectivas para a economia nacional são uma incógnita. No comércio, um dos setores mais importantes da economia, o impacto desses e outros fatores tem gerado descontentamento de lideranças, com relação ao modelo econômico atual, bem como deixado os comerciantes e lojistas da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), e do Ceará como um todo, preocupados com o futuro próximo do País, pois uma crise generalizada e, até mesmo forte recessão, parece que estão próximas.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio-CE), Luiz Gastão Bittencourt, afirmou que o País está completando um ciclo e o governo federal não fez o dever de casa, pois, quando Brasília foi criada, havia 12 ou 15 ministérios, e hoje são 39. Ele diz que, se for realizada uma pesquisa, até mesmo dentre um público mais esclarecido, formadores de opinião, vai ser difícil encontrar um pessoa que saiba dizer quais são todos eles. “E você encontrar alguém que saiba dizer o nome do ministério e o do titular da Pasta, acho que é praticamente uma missão impossível. Isso fez com que o Estado se tornasse gigantesco, o nível de burocracia e de processos se avolumou, e o custo para fazer a máquina girar tirou recursos de investimentos em outras ações. O governo está cada vez mais perdendo sua capacidade de investimento”, explicou.Ele lembrou que houve um período de pouco incentivo às indústrias e empresas para sua modernização, que o acesso ao crédito sempre foi muito difícil dentro do País como um todo, em alguns setores, e o crédito que foi dado, para crescimento da venda da linha branca, do consumo de carros, foi dado ao consumidor. O governo criou linha e baixou o crédito para as pessoas, como as desonerações e redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “Beneficiou todas as empresas de automóveis e da linha branca, e as indústrias desse segmento, mas, com isso, baixou os recursos disponibilizados através do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), especialmente do Nordeste, fazendo com que muitas cidades passassem por dificuldades de giro e de condição de investimentos”.
PERDAS
Outro ponto de grande importância, em relação à crise que se aproxima diz respeito à questão dos combustíveis, uma vez que a petrolífera estatal está perdendo seu valor, dia após dia, e sem capacidade de atender à demanda crescente. “O governo conseguiu uma proeza inédita de quebrar a Petrobras, de fazer com que o maior símbolo do empreendedorismo brasileiro estivesse numa situação aonde o seu valor já foi três ou quatro vezes maior, se você pegar quanto vale uma ação da companhia e quanto valia. Junto com isso, temos uma demanda de aumento de preço de combustíveis e o governo está segurando isso, levando a companhia para uma situação ainda mais difícil. O custo de impostos da energia e dos combustíveis chega a mais de 30%. Se o governo baixasse o custo com impostos e beneficiasse a produção, teríamos um horizonte”.
O presidente da Fecomércio-CE ressaltou que as obras de infraestrutura que estão em andamento seguem a passos lentos, quando não estão paradas, e não se ouve mais falar no Programa de Aceleração do Crescimento. “Não se comentam mais as obras do PAC, a transposição do Rio São Francisco ninguém sabe onde é que está, e a Transnordestina continua ligando nada a lugar nenhum. Então você vê que todas as obras, os aeroportos e as de mobilidade urbana para a Copa do Mundo, que era o grande legado que ia deixar, nenhuma cidade-sede vai concluir. O que está pronto são os estádios, que custaram uma fortuna e estão afastando as pessoas, devido ao custo que está para a gerência. O esporte, o futebol, que sempre foi um produto extremamente popular e de massa, mas você vê jogos importantes com público de 20 mil pessoas. São arenas bonitas, padrão Fifa, mas temos que fazer com que o povo tenha acesso a isso.
Completando seu raciocínio, ele disse que pouco se discute em termos de desenvolvimento, urbanismo das cidades e regiões, para que estas se desenvolvam e a iniciativa privada aloque recursos. “O estado está completamente desassistido e sem rumo. É uma ânsia de fazer alianças para se manter no poder e nós estamos à deriva de projetos nacionais, de desenvolvimento, que possam contribuir, efetivamente, para a melhoria de vida das pessoas. Esta crise energética que se avizinha faz com que o capital internacional, de investimentos de novas plantas industriais, fique receoso de vir. Você não vai montar em um local que corre o risco de ficar sem luz ou água. Então, esse legado é que o governo está deixando e o próximo governante vai ter que encarar, para retomar o crescimento”, asseverou Luiz Gastão.
MACROECONOMIA BRASILEIRA ESTÁ DESORGANIZADA, DIZ SINDILOJAS
O presidente do Sindicato do Comércio Varejista e Lojista de Fortaleza (Sindilojas), empresário Cid Alves, garante que o País está vivendo a “maior desorganização na macroeconomia brasileira”. Ele observa que os investidores estrangeiros estão evitando investir no Brasil pela desconfiança na administração das estatais, principalmente. E, em decorrência dessa falta de investimentos, “o que a gente vê é o sinalizador de desemprego em alta, o sinalizador de investimentos em poupança em baixa, e isso é uma forma exata para que, de certa forma, a indústria (parque industrial brasileiro) não seja renovada e não haja reinvestimentos”, ressaltou o dirigente.
Diante dos fatos, Cid Alves demonstra preocupação. “Por consequência, a gente perde em competitividade, principalmente na exportação, e, como a matriz brasileira de exportação é dependente de matéria-prima - exportando matéria-prima e importando manufaturado”, aponta o sindicalista. Ele acrescenta que, nessa perda de competitividade, está a forma exata para gerar o que, nas décadas de 80 e 90, houve no País, “e aquilo que nunca mais brasileiro nenhum quer ver na história do Brasil, que é a hiperinflação. Nós estamos correndo nesse sentido”, alertou.
CRISE ENCOBERTA
Alves aponta que o governo federal está encobrindo uma crise econômica no País, mediante a inflação, juros altos, desconfiança dos consumidores e, agora, falta de energia elétrica. “A falta de energia é o primeiro sintoma de que alguma coisa está encoberta, porque, na semana passada, nós tivemos várias oscilações em muitos bairros de Fortaleza e em horários de pico”, observou. “Eu acho que o governo está encobrindo uma crise econômica sim, colocando uma nuvem para tentar fazer com que a população não acredite que vai haver inflação e que ela está estancada, mas a doença está grande no seio da economia brasileira e está crescendo como um câncer”, dispara o dirigente. No entanto, ele acredita que as outras fontes de energia do País, de um modo geral – como petróleo, eólica, hidrelétrica – estão segurando a inflação.
Outro aspecto da situação econômica está, notadamente, no recuo nas vendas do comércio, que foi muito acentuado, segundo o presidente do Sindilojas. “De julho de 2013 até agora, estamos bem aquém do que esperávamos em termos de crescimento, e, em números reais, a gente vem conseguindo faturamentos um pouco crescentes por conta da inflação”. Para o dirigente, isso certamente reflete em uma projeção negativa para o setor este ano. “O que está ocorrendo agora nos faz crer que nada vai alavancar as vendas, a não ser a quadra chuvosa que está se instalando no Ceará, diferentemente de 2012 e 2013, e que, de qualquer maneira, dá um alento à economia das famílias e, por consequência, do varejo”, acredita Alves.
SEM OTIMISMO
Apesar de estarmos em ano eleitoral, é de se esperar um ano com maior dinamismo, porque as gráficas trabalham mais, geram mais empregos, por consequência; e vários setores passam a trabalhar mais em função das eleições, principalmente as desse ano, que são quase gerais, na visão do empresário. Porém, “não vejo que as eleições façam com que um clima de otimismo se instale e nem que, de uma certa forma, esse otimismo, vindo a se instalar, seja concretizado quanto à melhoria no padrão de vida e poder de compra das famílias”, ponderou.
Fonte: O Estado Online (Jornal O Estado do Ceará)