ESCALADA - Casa de câmbio de Fortaleza já vende dólar a R$ 3,18
Moeda americana saltou 2% na sessão de ontem, chegando a R$ 3,01, mas recuou e chegou ao fim do dia cotando R$ 2,97
Fortaleza/São Paulo. A instabilidade política gerou pressão sobre os mercados domésticos e elevou o valor do dólar ainda mais na sessão de ontem, renovando os maiores preços em mais de dez anos. O dia terminou com o dólar à vista a R$ 2,97 - alta de 2,06% e o maior valor desde 19/8/2004, quando a cotação estava em R$ 2,98. Já em algumas casas de câmbio de Fortaleza, a moeda americana pôde ser comprada entre R$ 3,08 e R$ 3,18, nas cotações mais altas.
"A procura despencou. Só quem está comprando (dólar), agora, são as pessoas que têm viagem marcada para uma data próxima, dentro de dois dias ou menos", afirma Breno Cysne, gerente da casa de câmbio Sadoc - na qual a moeda americana estava cotada a R$ 3,08 próximo das 17h, mas, na abertura desta quarta-feira, chegou a comercializar a R$ 3,03.
A mais alta cotação encontrada pela reportagem na tarde de ontem foi a da Confidence (R$ 3,18 para cada dólar), enquanto a Labor Câmbio comercializou o dólar a R$ 3,12 e R$ 3,11, nas duas únicas vendas que fez da moeda ontem.
Movimentação
O dólar à vista terminou o dia em alta de 2,06%, a R$ 2,9790, maior preço desde 19/8/2004 (R$ 2,9880). Na mínima, marcou R$ 2,9520 (+1,13%) e, na máxima, R$ 2,9990 (+2,74%). Nestes três dias úteis de março, já acumula valorização de 4,31% e, em 2015, sobe 12,20%. No mercado futuro, às 16h33 de ontem, o dólar para abril tinha valorização de 1,64%, a R$ 3,0045.
Detonada após o presidente do Senado, Renan Calheiros, devolver a MP 669, que reduz o benefício fiscal da desoneração da folha de pagamentos, a alta do dólar representou, segundo analistas de mercado, a desconfiança dos investidores com o futuro da política econômica brasileira. Por isso, o mercado tratou de se proteger adquirindo dólar, que superou 2% de alta a maior parte da sessão, ajudada ainda pela trajetória de ascensão da moeda no exterior.
Sem crise
No entanto, o ministro da Secretaria de Relações Institucionais (SRI) da Presidência da República, Pepe Vargas, minimizou qualquer possibilidade de crise entre governo e Congresso. Segundo ele, o governo não tem intenções de ver o Congresso fragilizado. O governo continua reafirmando que conseguirá atingir o superávit primário de 1,2% do PIB - Pepe Vargas disse isso e também o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante almoço em São Paulo. Apesar disso, o mercado segue descrente e tratou de se posicionar em dólar.
A alta do dólar no exterior também justificou a trajetória doméstica, com dados positivos sobre a economia norte-americana e ainda com a expectativa de início do aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed, Banco central dos EUA).
Bem a uns, mal a outros
Na análise do economista Ricardo Eleutério, "estamos em um quadro político delicado" e em um processo de elevação do dólar que tem início em 2013, quando a moeda saltou 15% ante o real. "Em 2014, foi 13% de crescimento e este ano continua no mesmo processo, pois subiu mais de 10%", ressalta.
"É interessante para o exportador. Taxa de câmbio elevada é tudo que ele quer. O câmbio é importante, mas não é a única variável para ele", pondera o economista, lembrando que há alternativas de inovação na produção que podem garantir o crescimento das exportações.
Eleutério lista mais danos que vantagens com a alta do dólar, começando pelo retorno da inflação, que surge com os preços mais caros em produtos cujos componentes sofrem influência do câmbio. Máquinas importadas também devem sacrificar ainda mais a indústria, além dos empréstimos tomados em dólar.
Para o consumidor comum, o economista levanta possibilidade de diminuir o fluxo de turistas brasileiros pelo mundo.
Bolsa fecha em baixa com temor sobre ajuste fiscal
São Paulo. O principal índice da Bovespa fechou a quarta-feira no vermelho, em meio à deterioração do ambiente político, com investidores temerosos sobre potenciais dificuldades para o amplamente almejado ajuste nas contas públicas do país.
A queda nos pregões em Wall Street reforçou a pressão vendedora na bolsa paulista, em sessão também influenciada pela valorização do dólar para ao redor de R$ 3. O Ibovespa encerrou em baixa de 1,63%, a 50.468 pontos. O volume financeiro totalizou R$ 6,5 bilhões. No mês, a bolsa tem perdas de 2,16% e, no ano, alta de 0,92%.
Em Wall Street, o índice S&P 500 recuava 0,47%, com ações do setor de saúde entre os poucos ativos no azul, conforme investidores seguiam ajustando posições após rali recente que colocou as bolsas em máximas recordes. No Brasil, o governo federal precisou enviar projeto de lei que pode gerar receita ao governo de cerca de R$ 14,6 bilhões com urgência constitucional ao Congresso após o presidente do Senado rejeitar a respectiva medida provisória.
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) considerou inconstitucional a Medida Provisória (MP) 669, que elevou as alíquotas de Contribuição Previdenciária das empresas sobre receita bruta, reduzindo, na prática, a desoneração da folha de pagamentos.
A presidente Dilma Rousseff reuniu-se nesta quarta-feira com os líderes de partidos aliados da Câmara e do Senado e fez um apelo pela aprovação do projeto de lei.
"A dificuldade em aprovar as medidas fiscais dificulta a recuperação da credibilidade brasileira", afirmou o gestor Joaquim Kokudai, sócio na JPP Capital Gestão de Recursos.
Ações
As ações das empresas estatais, sobretudo Petrobras e Banco do Brasil, foram as mais prejudicadas por esse embate político, enquanto os papéis da Gerdau se destacaram em alta após um balanço favorável.
Petrobras terminou nas mínimas, com a ON em baixa de 3,79% e PN, de 4,06%. BB ON também fechou no menor preço da sessão, com recuo de 5,04%. Gerdau PN subiu 4,51% e Metalúrgica Gerdau PN, 4,27%.
Fonte: Diário do Nordeste