BNB disponibilizará R$ 30 bi em créditos este ano
O novo presidente do Banco do Nordeste (BNB), Nelson Antônio de Souza, afirmou que pretende disponibilizar R$ 30 bilhões em crédito, para os clientes da instituição, este ano, dentro da sua área de atuação, que são os nove estados nordestinos, além das regiões norte do Espírito Santo e Minas Gerais. Sua nomeação, pela presidente Dilma Rousseff aconteceu no último dia 30 de junho, mas ele estava à frente dos destinos do banco, interinamente, desde abril, quando da saída de Ary Joel Lanzarin. Nelson já trabalhava como diretor de estratégia, administração e tecnologia da informação (TI) do BNB, conhecia as principais necessidades do banco e de seus clientes, especialmente no período de baixa incidência de chuvas na região, que acaba fazendo com que a instituição seja um ponto de apoio fundamental para os micro, pequenos e grandes empreendedores, além do homem do campo.
Nesta entrevista exclusiva, durante uma visita ao jornal O Estado, Nelson de Souza destacou pontos importantes no trabalho que existe pela frente, ressaltando que o grande desafio que ele e sua equipe têm é cumprir a missão de fomentar o desenvolvimento regional sustentável, de maneira competitiva e rentável. Foi definido um planejamento estratégico de quatro anos – deslocando, a cada ano, a régua em um ano, ou seja, é refeito periodicamente –, pois é dinâmico. E há grandes objetivos empresariais dentro deste planejamento, como a expansão do número de agências, para que o BNB possa chegar cada vez mais perto de seus clientes. No segundo semestre de 2012, a instituição possuía 186 agências e deve finalizar este ano com 308 unidades, ou seja, um crescimento de quase 70%, aumentando sua capilaridade. Existe um estudo, já aprovado pela diretoria e que está sendo levado ao conselho de administração, para mais 25 agências na região de abrangência do banco, que é o semiárido brasileiro, e onde existem muitas necessidades. Acompanhe os objetivos e ideais do novo gestor do BNB.
O Estado - Somente no Estado do Ceará o BNB tinha 28 agências, e este ano será fechado com 49 unidades, ou seja, 21 novos pontos de atendimento aos clientes do banco, quase dobrando a sua capacidade de atender às demandas daqueles que buscam a instituição. Quais seriam as outras áreas que o senhor acredita que precisam ser fortemente trabalhadas nestes primeiros anos de atuação?
Nelson de Souza - Outro grande objetivo é racionalizar o processo de crédito, dando-lhe mais celeridade. Isso porque há três grandes macroprocessos no procedimento. O primeiro é a contratação do crédito, o segundo é o desembolso das parcelas para os diversos projetos e o terceiro é a recuperação desse crédito, o recebimento desse crédito. Mas, para isso, é importante que o banco seja célere tanto na análise desses projetos, na liberação dos recursos e efetivo na cobrança.
OE - Realização de cadastro, melhorias no setor de tecnologia da informação (TI), a fim de evitar a inadimplência, são desafios do dia a dia da instituição. Afinal, somente no ano passado, o BNB conseguiu recuperar valores que estava inadimplidos (em atraso), há muito tempo, da ordem de R$ 2,47 bilhões. Qual a importância desta ação?
NS - Foram recursos que retornaram para o banco, aumentando a sua capacidade de conceder novos financiamentos para os clientes de sua área de atuação. Isso fez com tivéssemos um lucro em 2012 de R$ 820 milhões, mais R$ 360 mi em 2013, tendo uma média aí de quase R$ 600 milhões/ano, pegando os anos 2012 e 2013. Quando nós também colocamos como despesas de provisão, quase R$ 2,1 bilhões, ou seja, se nós não tivéssemos recuperado esses R$ R$ 2,47 bi, a gente não teria como cobrir essa despesa que teve. E o banco tem sido muito efetivo na parte da cobrança, e vai continuar sendo, até porque o banco é público e precisa cumprir sua missão que é atenuar as desigualdades regionais.
OE - O aumento da capilaridade do banco, com maior número de agências e contratação de novos colaboradores, e o processo racionalização do crédito, são pontos importantes neste trabalho que está sendo feito. Mas as melhorias no setor de TI são primordiais hoje em dia, correto?
NS - Melhoria significativa na TI do banco, tanto do ponto de vista de hardware quanto de software é primordial. Então, só para se ter uma ideia, apenas na área de TI temos, hoje, duas redes de transmissão de dados, voz e imagem, que operam de maneira concomitante, simultânea. A disponibilidade do sistema do banco é praticamente 100%. Dificilmente sai do ar o nosso sistema, porque, quando uma delas tem problema, a outra entra automaticamente. É um investimento muito forte em tecnologia da informação. Até porque não existe uma instituição financeira forte, com a TI fraca. Ela tem de ser forte para suportar o crescimento do banco e ser segura, para evitar a ação de hackers. Tudo isso buscando o objetivo maior, que é a excelência no atendimento do nosso cliente. Tanto a grande empresa como o microempreendedor, o agricultor familiar ou os empresários do agronegócio. Pretendemos ser o banco preferido na região Nordeste, reconhecido pela excelência no atendimento e efetividade na promoção do desenvolvimento sustentável. A satisfação de nossos clientes é algo que estaremos sempre buscando neste mercado que é bastante competitivo.
OE - O banco está disponibilizando, para esta safra, R$ 2,3 bilhões para a agricultura familiar. Este valor é suficiente para atender às necessidades do homem do campo?
NS – É, realmente, este volume de recursos será para os integrantes do Programa de Agricultura Familiar (Pronaf), mas no total, estamos disponibilizando quase R$ 27 bi, arredondando, entre o crédito rural e para os diversos macrossetores da agricultura, principalmente onde o banco mais aplicar que é a área rural. Mas desde o pequeno produtor até as grandes plantas industriais. Desde aquele agricultor familiar, mais da subsistência do dia a dia, que nós financiamos, até as grandes plantações, projetos grandes do agronegócio.
OE – Por exemplo, nas margens do Rio São Francisco, existem aquelas grande plantações irrigadas, de uvas.
NS – Exatamente, as plantações de uva, a fruticultura, vinhos. O banco está muito forte naquele região de Petrolina (PE), Juazeiro (BA), temos grandes polos na região de Balsas (MA), Luís Eduardo Magalhães (BA), Gilbués (PI), Barreiras (BA), então, em tudo isso, o banco está presente. Então, é muito claro para nós esse papel do Banco do Nordeste ser o banco de desenvolvimento da região, e estamos trabalhando muito forte para que esta missão seja cumprida, essa função de fomento do desenvolvimento regional, mas traga por conta desses recursos emprestados, traga também resultados financeiros, econômicos, para o Banco do Nordeste, do ponto de visto do lucro do próprio banco. Mas, sabemos serem dois objetivos importantíssimos, que é o lucro social, o balanço social do banco que tem de ser forte e é forte, não podemos esquecer disso, para um banco de desenvolvimento, e o outro é que ele tem que ter um resultado financeiro, um lucro que o torne um banco, que já é de ponta e cada vez mais importante, competitivo no mercado e rentável.
OE – O senhor estava falando que praticamente 10% do total da verba total destinada ao campo seria para a agricultura familiar, que, no Nordeste, representa a maioria dos clientes. E o senhor implantou, recentemente, o programa de descontos para o Pronaf, para recuperar estes créditos. Como está o andamento desta ação?
NS – Em 2012 e 2013, nós tivemos uma seca muito forte na nossa região, eu diria uma das mais fortes da história. E, nesse momento, um banco como o BNB tem de aparecer, ter uma presença marcante nesses momentos difíceis. E estivemos presentes na formatação de algumas resoluções do Conselho Monetário Nacional e em leis, participando junto ao Poder Legislativo, na elaboração de lei. Mas, o mais importante no papel do banco é, ao serem aprovadas estas leis, estas resoluções, que dão condições daqueles produtores rurais que perderam a safra por conta da estiagem, que eles possam renegociar suas dívidas junto ao banco, em condições especialíssimas, com desconto de até 85% da dívida atualizada, e mesmo esses 15% que ficam faltando, eles poderem refinanciar em até dez anos, com juros que variam de 0,5% a 3,5% ao ano, e com carência que poderá chegar a até três anos.
OE – E isto facilita muito ao cliente do banco realizar este pagamento.
NS – Aí é que vejo o seguinte é o banco estar atento, o governo federal estar atento ao povo, a esses clientes, para que haja condições de eles regularizarem uma situação que não foi causada por eles, por um desastre natural, que é a seca no caso, e ao mesmo tempo, um novo crédito para que eles possam reinvestir, produzir e voltar à normalidade. Então o objetivo maior é voltar esse produtor rural a trabalhar com o banco e ter condições de continuar o seu investimento de maneira sustentável.
OE – Em 2013, o BNB disponibilizou mais R$ 2 bilhões para micro e pequenos empreendedores. Como é que está a situação este ano, essa disponibilidade de crédito para estas pessoas que movimentam a economia do Brasil? Aqui no Ceará, por exemplo, o número de micro e pequenos empresários é muito grande.
NS – Este ano, praticamente dobramos estes valores para micro e pequenas empresas, mas modificamos toda a nossa sistemática de análise de risco, para dar celeridade e condições facilitadas para que essas microempresas, acesse os créditos, com taxas de juros baixas, e que essa liberação dos créditos seja rápida. Então, modificamos todo o nosso arcabouço de análise de crédito e aumentamos o valor destinado às micro e pequenas empresas. Isso é um dos posicionamentos estratégicos do Banco do Nordeste, que é o crescimento deste segmento do setor produtivo brasileiro.
OE – E a carteira de clientes do banco chega a quanto, hoje em dia?
NS – No banco temos, somente nesta área de microempresas, 400 mil clientes, inclusive produtores rurais. Aplicamos, no total, no ano passado, R$ 23 bilhões e com previsão deste ano de aplicação de R$ 27 bi, mas queremos chegar a R$ 30 bilhões. Na realidade, além de aplicar os R$ 13,1 bi do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), queremos aplicar mais da tesouraria do banco e complementar estes R$ 30 bi. Então, é uma dotação orçamentária muito alta, em qualquer país do mundo, de aplicação total do banco, para agricultura, indústria, que também vem bem. Estes grandes parques industriais, estamos fortemente na área de cimento, de bebidas, shopping centers. Agora, estamos entrando muito forte também na área do comércio varejista. Isso foi, nas últimas alterações do FNE, que tem taxas de juros competitivas, até porque o fundo foi criado para atenuar as desigualdades regionais e, com isto, o segmento do comércio de varejo está tendo uma exceção grande, atualmente. Ele pode tanto pedir recursos para investimentos, para ampliar sua loja, abrir uma filial, realocar, e principalmente, capital de giro para aumentar suas vendas e número de funcionários. Para se ter uma idéia, 37% de todos os empregos formais gerados na região Nordeste, em todos os segmentos, são oriundos de financiamentos do Banco do Nordeste, o que é muito expressivo.
OE – E quais seriam outros pontos importantes para o melhor atendimento às demandas dos clientes do BNB?
NS – Na linha de aumento da capilaridade do banco, temos conversado muito com os presidentes de outros bancos públicos, como o Luciano Coutinho, do Bndes (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o Jorge Fontes Hereda, da Caixa Econômica Federal, para buscar uma sinergia entre esses bancos, para que o nosso cliente possa ser melhor atendido, utilizando o que tem de melhor em cada banco desses. Com a Caixa assinamos um contrato de compartilhamento de todas as casas lotéricas do Páis, cerca de 1,1 mil, nas quais todos os clientes do BNB poderão sacar e saber o seu saldo. Isso é um grande exemplo de como criar sinergia entre os bancos públicos, aumentar nossa capilaridade e melhor atender aos nossos clientes. Cada banco desses tem sua universidade corporativa, com cursos bons, que poderemos fazer um compartilhamento, com nossos funcionários fazendo um curso na universidade do Banco do Brasil, ou outra. Então, estamos sempre pensando em conjunto. Afinal, o BNB é o maior banco de desenvolvimento regional da América Latina, e não podemos perder esse papel de vista.
OE – E qual seria o grande prêmio por trabalhar num banco que visa ao crescimento, ao desenvolvimento das pessoas?
NS - O que me causa mais satisfação é quando eu vejo um cliente das microfinanças – Crediamigo (microcrédito produtivo e orientado da área urbana) ou Agroamigo (da área rural) –, cujos créditos são de R$ 1.600,00 em média, que vende um picolé na rua, um sanduíche, ir pegar um recurso com juros mais altos, sendo que ele é mais frágil. E depois, vir até aqui, pois esse é um aporte que estas pessoas podem acessar o crédito, com juros mais baixos. Somente no Crediamigo, temos uma carteira de 1,6 milhão de pessoas que operam com ele, e, em 2013, foram aplicados R$ 5,7 bilhões. Às vezes, R$ 1 mil para um microempreendedor destes, numa dimensão, é talvez mais importante do que R$ 100 milhões de um grande projeto. Porque ali é a sobrevivência dele e da família. Se você chega no interior, nestes grandes grotões do Nordeste, você se depara com cenas deste tipo. E aí a gente verifica a importância de um banco de desenvolvimento regional, pois conhece a necessidade daquele cliente. E, no Agroamigo, temos cerca de 740 mil clientes, o que dá quase R$ 1,3 bilhão, que se revertem em produtos para a mesa.
OE – E quais os outros serviços que o banco disponibiliza?
NS - O Banco do Nordeste é um banco múltiplo, que tem toda a sua área comercial, com os produtos e serviços como conta corrente, cartão de crédito, poupança, CDC, cheque especial, oferece todo o portfólio de um banco comercial. Digo isto porque muitas pessoas não sabem. Talvez seja uma falha nossa, que temos de divulgar mais. Aquelas empresas que tomam empréstimos no BNB podem pegar os valores que estão sobrando no caixa e depositar no banco, fazer uma aplicação financeira, ter conta-salário, pode depositar os valores da Previdência Social. Então, é muito importante que estes recursos fiquem circulando no próprio Nordeste e gerando riquezas aqui.
OE – O senhor está há três meses à frente do BNB, mas vem de uma carreira interna, já viajou por todos os estados de sua área de atuação e, qual é o principal desafio, hoje?
NS – O Banco do Nordeste tem a missão dele, mas diria, o principal desafio, hoje, é tornar o crédito mais célere e buscar a excelência no atendimento de nossos clientes. Para isso, precisamos ter melhorias internas, estruturais, e, principalmente, chamamos quase três mil pessoas que passaram no concurso de 2010 e foram qualificadas. E já fizemos um novo concurso em junho e estão em nosso cadastro de reserva mais de 1.300 pessoas, que deverão ser chamadas em breve. Para que possamos desempenhar bem a nossa missão, precisamos ter profissionais competentes e que defendam o banco, entendendo bem a missão para que o nosso cliente seja bem atendido e saia do banco satisfeito. É não perder de vista o porque que existe o Banco do Nordeste, que tem uma função precípua dentro da sociedade, que é atenuar as desigualdades regionais, que é se preocupar com as pessoas do Nordeste, os nossos clientes, que é fazer chegar o crédito de maneira orientada nas mãos deles, dar oportunidade de eles irem ao banco de depositarem suas economias e às grandes empresas para fazerem grandes projetos aqui. E uma sinergia de vários atores para pensar o Nordeste, para que possamos nos antecipar até mesmo à estiagem, termos um trabalho pró-ativo, pois o Nordeste é uma região belíssima, de um povo aguerrido, que sabe o que quer, empreendedor, acredita no País e no Nordeste. E tenho muito orgulho de estar à frente deste banco.
O Banco do Nordeste é um banco múltiplo, que tem toda a sua área comercial, com os produtos e serviços como: conta corrente, cartão de crédito, poupança, CDC, cheque especial e oferece todo o portfólio de um banco comercial.
Fonte: Jornal O Estado