BANCÁRIOS - Greve para 272 agências no Ceará, diz sindicato
Somente casos considerados urgentes são atendidos. O único atendimento, por meio de funcionários e que não pode parar, por lei, é o de compensação de cheques
Com o cartão bloqueado, o aposentado Augusto Menezes, 79, chegou cedo à agência bancária onde é cliente. Ele já havia tentado resolver o problema em dias anteriores, mas sem sucesso. “Outra agência não pode receber. E hoje está em greve”, lamentou. Depois de alguns minutos esperando uma solução, pôde entrar na agência. “Este é um caso urgente”, disse um funcionário do banco.
No primeiro dia de greve geral por tempo indeterminado dos bancários, 272 agências no Ceará pararam as atividades, segundo o Sindicato dos Bancários do Ceará (Seeb-CE). O estado conta com mais de 520 agências e um número superior a 10.500 funcionários.
Além de Augusto, clientes de várias idades buscaram atendimento e a maioria não conseguiu. Além de autoatendimento, somente casos considerados urgentes são atendidos.
O único serviço realizado por meio de funcionários que não pode parar, por lei, é o de compensação de cheques. No Ceará, cerca de 50 funcionários realizam esse serviço, segundo o presidente do Seeb-CE, Carlos Eduardo Bezerra.
“Essa greve chateia e prejudica muita gente. A gente não tem culpa. Foi sem ninguém esperar”, destacou o motorista Ronaldo Rocha, 66. Ele defendeu que o movimento tivesse esperado o fim das eleições.
“Se funcionando já demoramos três horas para resolver um problema de cinco minutos, imagine em greve”, reclamou o eletricista Ernando Lucas, 25.
A dona de casa Rosa Oliveira, 61, conseguiu resolver suas demandas no caixa eletrônico. “Hoje deu certo. Ninguém sabe depois”, explicou. Ela disse que a greve dos bancários é justa, mas acaba por prejudicar os clientes. “Para nós não é bom, mas eles é que trabalham e sabem.”
Os clientes que buscaram os caixas eletrônicos também foram prejudicados em algumas agências. A costureira Irlânia da Silva tentou utilizar o autoatendimento, mas não havia dinheiro disponível.
Negociação
A última rodada de negociação aconteceu no último sábado, 27. A Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) elevou a proposta de reajuste de 7% para 7,35% (0,94% de aumento real) para os salários e demais verbas salariais e de 7,5% para 8% (1,55% acima da inflação) para os pisos. O piso de caixa iria para R$ 2.403,60. Os bancários pedem reajuste salarial de 12,5% com piso de R$ 2.979,25.
Por meio de nota, a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) informou que são assegurados aumentos reais (acima da inflação). “A Federação permanece confiante na manutenção das negociações para um desfecho do acordo coletivo.”
Saiba mais
A lei que estabelece o direito de greve (Lei nº 7.783/1989) define também os serviços essenciais que não podem parar por completo. Para ser considerado legal, os movimentos grevistas mantém 30% dessas atividades.
Além do reajuste, os bancários também defendem causas sociais. “Os bancos aumentaram as receitas, mas reduziram os postos de trabalho. Não é razoável a precariedade do trabalho”, destacou Carlos Eduardo Bezerra, presidente do Sindicato dos Bancários. De acordo com ele “a questão social é tão importante quanto a econômica.”
A proposta dos bancários contempla 14º salário, vales alimentação, refeição, cesta-alimentação, 13ª cesta e auxílio-creche/babá, além de vale-cultura. Eles pedem ainda fim das metas abusivas, combate ao assédio moral, fim das demissões e da rotatividade, prevenção contra assaltos e sequestros, dentre outas exigências.
O art. 10 da lei determina que são considerados serviços ou atividades essenciais, no caso dos bancos, apenas a compensação bancária.
Repórter: Teresa Fernandes
Fonte: Jornal O Povo