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Publicado em: 07/07/2015

Auditoria Cidadã da Dívida – Maria Lúcia Fatorelli fala sobre a situação na Grécia

A Auditora Fiscal, Maria Lúcia Fatorelli, participou, nesta segunda-feira, de uma coletiva de imprensa no Sindicato dos Jornalistas de Belo Horizonte, onde tratou sobre a situação da Grécia, país que, no último domingo, por meio de um referendo, votou contra as exigências dos credores. Mais de 60% da população disse “não” ao pacote de austeridade imposto ao povo grego.

Maria Lúcia, que coordena o núcleo nacional da Auditoria Cidadã da Dívida, movimento que tem como objetivo a realização de auditoria da dívida pública brasileira, foi a única representante do Brasil na comissão que analisou os contratos com os credores na Grécia. Segundo a auditora, do estudo realizado pelo Comitê de Auditoria da Dívida Grega foi apresentado um relatório com 9 capítulos, desmascarando os mecanismos do sistema da dívida. “Uma das minhas funções neste trabalho histórico realizado na Grécia, foi investigar o contrato Master, (MFAFA), feito em 2012. Bancos privados, principalmente ingleses, com o apoio do Fundo Monetário Internacional (FMI), criaram, no auge da crise financeira em 2010, uma companhia, em Luxemburgo, sob a justificativa de urgente necessidade de garantir estabilidade financeira na Europa. Mas, na verdade, este mecanismo tinha como principal objetivo desviar recursos públicos, ou títulos garantidos pelos países europeus para bancos privados, ao mesmo tempo em que direcionava os ativos tóxicos (títulos podres) dos bancos privados para bancos públicos. No caso grego, o país repassou seus principais títulos para as instituições financeiras privadas e recebeu em troca os títulos podres, ou seja, sem valor no mercado. Isso mostra que o acordo bilateral, firmado neste período pelo governo grego e os credores não trouxe dinheiro para a Grécia, como era previsto, mas sim, títulos que não tinham valor de mercado.”, explicou a Auditora.

De acordo com a Auditora, esse contrato é apenas uma das denúncias de fraude que envolvem a dívida pública da Grécia. “Ficou evidente que, com o apoio dos EUA, Inglaterra e até mesmo do FMI, títulos podres foram transferidos para Grécia que não está recebendo dinheiro e sim papéis sem valor de mercado”.

Na visão da coordenadora do movimento nacional pela auditoria cidadã da dívida, a vitória do “não” no referendo de domingo deve ser muito comemorada, pois o resultado representa a esperança de desmascarar esse sistema da dívida. “O sistema da dívida é um esquema de mega corrupção institucionalizado, pois o endividamento público funciona como um veículo de subtração dos recursos públicos. Precisamos lutar por uma economia que aplique os tributos no social e não no sistema financeiro. A resposta do povo grego, representa essa luta pelo bem- estar social”, destacou.

Para Maria Lúcia, o resultado do plebiscito popular não representa a saída da Grécia da União Europeia, mas sim, um fortalecimento do país para negociar com os credores. “Na semana passada, a Grécia estava desmoralizada, mas com a votação, não existe mais essa imagem. Muito pelo contrário, os credores estão apreensivos, principalmente os franceses e os alemães, por isso já estão reunidos e provavelmente deverão reabrir uma nova rodada de negociações com a Grécia”.

Além disso, para Maria Lúcia, o “não” abre oportunidade de comprovar o esquema fraudulento da dívida, já que o parlamento grego com certeza dará continuidade aos trabalhos de auditória da dívida grega. “A auditoria é importante porque ela não representa a opinião de um ‘opositor do governo’, mas um trabalho com provas e dados que traz transparência para situação financeira do país, permitindo que o governo tome decisões contra a política de austeridade que corta direitos sociais. Esse foi o caso do Equador que conseguiu cortar 70% da dívida, tendo a aprovação dos credores, já que foram comprovadas irregularidades em vários contratos”, explicou.

Finalizando a entrevista, a auditoria destacou um ponto importante do que considera “uma vitória do povo grego”.   “A Grécia só conseguiu sair das amarras do sistema da dívida porque elegeu um presidente que não teve financiamento de campanha feito pelos grandes bancos. Isso é muito importante  ressaltar. Quando há esse tipo de financiamento, é quase impossível o representante ter soberania para enfrentar o sistema da dívida, como aconteceu na Grécia”. E a auditora ainda deixou uma mensagem para a reflexão. “O Brasil está numa situação de endividamento muito séria, mas se comparado a Grécia, nossa situação talvez esteja pior no que diz respeito à soberania nacional, porque aqui é proibido a compra de votos,  mas é permitido a venda de mandatos”, finalizou.

 

Fonte: Affemg