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Publicado em: 26/08/2014

Palestra com Frei Beto marca encerramento do Seminário sobre o Sistema Tributário

 “Pecados Sociais – sonegação e mau uso dos recursos públicos”, esse foi o tema tratado por Frei Beto, convidado para proferir a palestra de encerramento do Seminário “INequidades do Sistema Tributário Nacional”, realizado pela Frente Mineira em Defesa do Serviço Público, nos dias 21 e 22 de agosto, no auditório da UFMG.

Falando para um auditório lotado, Frei Beto abriu sua participação agradecendo o convite e num tom de descontração, brincou: “Confesso que no primeiro momento fiquei surpreso, afinal o tema dessa palestra não foi proposto por uma congregação de freiras, mas por um grupo de auditores fiscais e isso, meu amigo, significa que a coisa vai mal”.

Após arrancar risos e aplausos da plateia, Frei Beto deu início a sua reflexão sobre a realidade brasileira e a sonegação. Citando dados de 2013, que apontam uma estimativa de sonegação no Brasil em torno de 406 bilhões de reais, o palestrante observou que apesar do valor sonegado corresponder a mais de 8% do PIB nacional, nunca houve uma reforma tributária no país. “Isso é um reflexo de que vivemos, hoje, em uma sociedade que está apagando as normativas da ética. Não existe apenas uma sonegação fiscal, mas sonegação de valores que abre caminho para a corrupção e a impunidade. Acabamos vítimas dessa sociedade que sonega valores, entre eles, o dinheiro público.”

Para o Frei, a explicação para o que chama de “limbo moral e ético” está relacionado à noção de pecado, uma atividade regulatória da moral e da ética, mas que se perdeu com a modernidade, principal criadora de uma sociedade, cada vez mais laica. “Somos uma sociedade que está entre aquela que, um dia, acreditou no pecado para a que ainda não inventou outra coisa, sem ser a religião, para substituir a questão da étiica e moral. É como se nossos avós tivessem vivido uma mudança de tempo e nós vivêssemos uma mudança de época, daí a observação de estarmos em um ‘limbo’.

Mas, mesmo em tempos de mudança, Frei Beto afirmou que a abertura para o transcendente é uma questão ontológica para o ser humano, como se alimentar ou dormir. É por essa abertura que a humanidade entende o amor, sentimento que leva até um ateu a praticar o altruísmo. “Quando se pratica o altruísmo, ou seja, pensar e agir pelo outro, o ser humano, frágil por essência, se fortalece. É isso, por exemplo, que leva uma pessoa mesmo tendo uma ganância enorme pelo material e uma grande tendência em ser corrupto, a ‘engolir’ suas ânsias, porque existe uma estrutura além da legislação jurídica, que o faz agir assim. É por isso que eu acredito na ética da política e não na política.”, concluiu.

O último dia do Seminário também discutiu temas como: a terceirização do setor público e os riscos para a previdência, a desoneração da folha de pagamento, o impacto da isenção fiscal para o orçamento e as políticas socais, além de apresentar os projetos Imposto (In) Justo, encabeçado pelo Sindifisco Nacional e o Sonegômentro, feito pelo Sinprofaz – Sindicato dos Procuradores de Fazenda.

Assim como aconteceu com as palestras do primeiro dia do evento, todos os painéis dessa sexta-feira também serão disponibilizados, em breve, no site da AFFEMG.

Fonte: Affemg