INVESTIMENTOS EXTERNOS - Agência de risco rebaixa nota do Brasil
Devido ao baixo crescimento da economia, a agência Moody’s alterou a nota do Brasil para 'negativa'. Especialistas dizem que decisão significa juros altos, pressão sobre a inflação e possibilidade de desvalorização do real
A agência de classificação de risco Moody’s alterou, ontem, a perspectiva do rating (nota) dos títulos do governo brasileiro: de “estável” para “negativa”. Na justificativa apresentada cita o baixo crescimento econômico, a queda da confiança do investidor e a tendência de alta da dívida do governo. O POVO ouviu especialistas para explicar o significado dessa decisão e o que representa.
Para o economista e professor do departamento de Economia Aplicada da Universidade Federal do Ceará, Marcos Holanda, a revisão representa juros mais altos para captar recursos externos.
O economista e pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), do Curso de Pós-Graduação em Economia (Caen) da Universidade Federal do Ceará, Marcelo Lettieri, ressalta que a Moody’s não rebaixou o “grau de risco do Brasil”, que continua sendo “BAA2”, dois degraus acima do piso da faixa considerada grau de investimento (investment grade).
“O que ela alterou nessa nova avaliação foi a “perspectiva futura da nota da dívida pública do Brasil”, que saiu de “estável” para “negativa”, o que indica que ela poderá rebaixar o “grau de risco do Brasil” na sua próxima avaliação”.
O economista do Centro de Economia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcel Grillo Balassiano, concorda e diz que baixar a perspectiva de nota é bem menos danoso. “Isso sim seria um problema sério para o país, pois deixando essa categoria, haveria uma fuga de capitais internacionais, diminuindo os investimentos, e consequentemente o crescimento”, completa.
Qualidade
Ele acrescentou que a nota dada pelas agências de classificação de risco funciona como um “selo de qualidade” para o investidor estrangeiro. O professor do Caen/UFC, Paulo Neto, diz que a Moody’s classifica os riscos de inadimplência de empresas e países. “Esses países e/ou empresas emitem títulos de dívidas e essas agências classificam o grau de risco destes que não horarem seus compromissos.
Para a professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Cristina Helena Pinto de Mello, esse fato é relativamente grave e indica a deterioração das condições econômicas e das perspectivas para a economia.
A decisão ocorre 11 dias após a divulgação do Produto Interno Bruto (PIB) que anotou taxas negativas no primeiro e no segundo trimestre deste ano. Situação considerada como uma recessão técnica. A nota da Moody’s atribuída ao Brasil hoje é “BAA2”, dois degraus acima do piso da faixa considerada grau de investimento, e não especulativo.
Saiba mais
Em março, outra agência, a Standard & Poor’s (S&P), cortou a nota de crédito do Brasil de “BBB” para “BBB-”
A Moody’s projeta crescimento de menos de 1% neste ano e abaixo de 2% em 2015, o que está “abaixo do potencial do país, de cerca de 3%”
Apesar da queda da perspectiva, a agência manteve a nota dos títulos do governo brasileiro em seu nível atual Baa2, ou seja, o Brasil não perdeu grau de investimento
A Moody’s diz que poderia rebaixar a nota do Brasil caso se confirme, por exemplo, a tendência de baixo crescimento da economia.
Em julho, a agência de classificação de risco Fitch Ratings decidiu manter a nota de risco da economia do Brasil em BBB – acima, portanto do grau de investimento
De acordo com a agência, a nota refletia a diversidade econômica do país.
Repórter: Artumira Dutra
Fonte: Jornal O Povo