Desemprego volta a subir após cinco meses
O mercado de trabalho na Região Metropolitana de Fortaleza voltou a crescer após cinco meses de relativa estabilidade, ao atingir 8,6% da sua força de trabalho – enquanto que, em julho, a taxa estava em 8%. O resultado é decorrente do aumento da força de trabalho da região – embora o nível ocupacional registrasse variação positiva de 6% –, mas a geração de empregos não foi suficiente para atender à maior pressão de trabalhadores sobre o mercado, já que a População Economicamente Ativa avançou 1%.
Segundo informações da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED/RMF), divulgada ontem, na unidade do Sine /IDT Centro, entre os dois setores de atividade que apresentaram cortes de ocupações, estão serviços e indústria. No caso dos serviços – setor que responde por 48% das contratações do mercado de trabalho na RMF, houve o fechamento de seis mil postos de trabalho, queda de 0,7% sobre julho. Na comparação com agosto de 2014, o setor registra a queda mais expressiva de empregos, com o corte de 35 mil vagas, equivalente à retração de 4,1% no período. Seguindo a tendência de queda, a indústria de transformação também recuou 0,7% em um mês, com o fechamento de duas mil ocupações. Sobre igual período do ano passado, o setor fechou 15 mil vagas, uma queda de 5%.
A pesquisa é realizada, mensalmente, pelo Governo do Estado, através da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT), Sine/CE, Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), nos 13 municípios que compõem a RMF, entrevistando 2,5 mil domicílios.
Comportamento
Conforme o levantamento, o nível ocupacional, sobre julho, avançou 0,4%, e o total de ocupados foi estimado em 1,703 milhão de pessoas (contra 1,697 milhão registradas em fevereiro). Contudo, o estoque de empregos recuou 0,5%, na comparação anual, quando o total de pessoas ocupadas estava em 1,712 milhão em agosto de 2014 – perda de nove mil postos. Por sua vez, a taxa de desemprego aberto – que envolve pessoas que procuraram trabalho efetivamente nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa, e não exerceram nenhuma atividade nos últimos sete dias – também subiu de julho (6,6%) para agosto (7,2%).
Para o mês de referência, o contingente de desempregados subiu para 160 mil pessoas, 12 mil a mais sobre o mês anterior. Este resultado decorreu do aumento do número de ocupados (6 mil), mas não o suficiente para absorver o número de pessoas que ingressaram no mercado de trabalho da região (18 mil). O tempo médio de procura por trabalho, despendido pelos desempregados, avançou de 25 para 27 semanas, enquanto que a taxa de participação elevou-se de 56,4%, em julho, para 56,9%, em agosto. Por setores, entre os dois únicos que contribuíram para o avanço de 0,4% das ocupações, estão comércio e reparação de veículos automotores e motocicletas (2,4%, ou geração de 10 mil postos de trabalho) e na construção (1,4%, ou 2 mil).
Na análise por posição na ocupação, houve redução do número de assalariados (0,9%, ou eliminação de 10 mil empregos), tanto no setor público (2,2%, ou -3 mil) quanto no setor privado (0,7%, ou -7 mil). Neste último, reduziu-se o assalariamento com carteira de trabalho assinada (1,0%, ou -8 mil) – pelo terceiro mês consecutivo - e elevou-se o sem carteira (0,6%, ou 1 mil). Aumentou o contingente de trabalhadores autônomos (2,1%, ou 9 mil) e o daqueles classificados nas demais posição (8,6%, ou 7 mil), e não variou o número de empregados domésticos.
Rendimentos
O rendimento médio real, entre junho e julho, subiu entre ocupados (0,9%) e assalariados (0,8%), cujos valores passaram a equivaler R$ 1.179,00 e R$ 1.231,00, respectivamente, enquanto que a massa de rendimentos reais subiu entre os ocupados (0,9%), como resultado do aumento dos rendimentos médios, uma vez que o nível de ocupação não variou. No setor privado, cresceu o rendimento médio real (2%), mas, em um ano, a desvalorização chegou a 5,2%.
Entre os assalariados do setor privado, destaca-se que houve aumento tanto entre os trabalhadores com carteira de trabalho assinada (1,9%) – queda de 6,3% sobre julho de 2014 – quanto entre os sem carteira (2,9%), que permaneceu estável sobre o ano passado. Já o rendimento médio real do trabalhador autônomo diminuiu 1,6%, passando a corresponder R$ 919,00 – e a mais intensa na comparação com julho de 2014, com perda de 14,9%.
Cenário econômico agravará resultados
O coordenador de Estudos e Análise de Mercado do IDT, Mardônio de Oliveira Costa, ao comentar o levantamento, explicou que há quatro meses não houve mais a estabilidade do desemprego e, como o mercado não estava admitindo mão de obra, esse comportamento estava se dando em função da estabilidade da pressão sobre o mercado de trabalho, ou seja, as pessoas ainda não estavam nesse movimento de retornar o mercado para intensificar sua procura. “Os dados de agosto vem mostrando, nitidamente, isso”, ressaltou. “Na medida em que cresceu a taxa de participação e o mercado não está absorvendo, isso incide diretamente no indicador de desemprego, e não foi uma queda pequena”, asseverou.
Ele destacou a taxa de desemprego de agosto como uma das mais baixas do Sistema PED, mas o Estado já entrou em um processo de crescimento. “Esse é o ponto mais relevante desses resultados, pois a taxa de desemprego está passando a assumir uma trajetória ascendente e, isso, num contexto de segundo semestre – que, normalmente, tende a diminuir com o aquecimento da atividade econômica. Recentemente, o Ipece registrou uma queda do PIB do Ceará (5%), ou seja, nossa economia está perdendo dinamismo e impactando nos indicadores do mercado de trabalho”, avaliou o analista.
Por fim, o coordenador da PED, economista Ediran Teixeira, ponderou que o mês de agosto tem um indicativo diferente de outros anos. “Pela primeira vez, nós temos uma taxa de desemprego maior (para os meses de agosto) que os anos anteriores, em um momento em que a economia gera empregos, mas não suficientes para atender a demanda do mercado de trabalho, já que mais pessoas estão em busca de trabalho”, ressaltou. Para ele, a perspectiva é que, em setembro, esse comportamento de queda nas ocupações e renda se amplie, “e a tendência é que a taxa (de desemprego) se mantenha ou aumente mais um pouco”.
Fonte: O Estado do Ceará