O que muda com a reforma
11/09/2013.
Érico Firmo - Jornalista
Três secretarias estaduais tiveram mudança substancial de perfil na condução - de conteúdo para além de nomes. A Segurança, evidentemente, que se autoexplica. O discurso de posse de Servilho Paiva é bom pela honestidade. Quando afirma que não há milagre ou varinha de condão, acaba por reconhecer a necessidade de mágica ou intervenção divina para dar jeito no problema que herdou. Ao falar da necessidade de 10 anos para obter resultado, não contabiliza os quase sete do atual governo. Outra área onde a mudança tem a mesma natureza é a Saúde. Diferentemente da Segurança, o governador tem projeto para esse setor e há realizações em curso. Dois hospitais regionais – os primeiros construídos pelo Estado fora da Capital na história – estão em operação e há mais dois encaminhados. Contudo, em Fortaleza, duas semanas atrás, o programa Profissão Repórter, da Globo, levou para todo o Brasil as vergonhosas condições do Hospital Geral, já bem conhecidas por aqui. No mês passado, O POVO mostrou que somente sete de 44 Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) previstas foram inauguradas. Por trás dos grandes empreendimentos, há problemas operacionais graves. A terceira área é a Cultura. Nesse caso, a natureza da substituição é dupla. Há aspecto político. Embora não seja quadro enfronhado no meio, Paulo Mamede está sendo “abraçado” – bancado, no jargão político – pelas alas hegemônicas do PT. Mas o fundamento da mudança é a condução da pasta – fracassada no primeiro mandato, com Auto Filho, e que piorou com o Professor Pinheiro. Nesses três setores estão os fundamentos da maior reforma administrativa do governo Cid Gomes (PSB).
Pelo menos na Segurança e da Cultura, as mudanças demoraram - embora haja a se considerar que as trocas anteriores nessas pastas pioraram as coisas ao invés de melhorar. Pelo tempo que resta, os resultados positivos são igualmente improváveis daqui para frente. Mas, pelo menos, houve iniciativa para mudar algo por parte de uma administração que, até então, mostrara-se pusilânime com o descalabro em determinadas áreas.MUDANÇAS POLÍTICAS
Em quatro secretarias, Cid empreendeu ajustes políticos. Talvez a mudança mais significativa nesse aspecto seja a entrada de Francisco Sales de Oliveira na Controladoria da Segurança. O delegado aposentado é ligado a Moroni Torgan (DEM), com quem trabalhou na época em que o ex-deputado federal comandou a Segurança Pública, no governo Tasso Jereissati (PSDB). Gilvan Paiva no Esporte significa a reacomodação do PCdoB no primeiro escalão, após o baque da perda da Saúde. O governador repete modelo adotado sempre que pode, com secretário estadual em maior sintonia possível com o responsável federal pela área - Aldo Rebelo (PCdoB) é o ministro do Esporte.
No Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam) a coisa é particularmente preocupante. O setor ambiental sempre foi problemático no governo Cid. Reclamações de ambientalistas são encaradas como aborrecimentos de quem quer atrapalhar. Ao tomar posse, o governador tratou logo de extinguir a secretaria e substitui-la pelo Conpam. Agora, manteve a cota do PMDB na secretaria, mas optou por alguém diretamente ligado ao senador Eunício Oliveira. O escolhido é o publicitário Bruno Vale Sarmento, que trabalha com o peemedebista em Brasília. Alguém cujos vínculos com o meio ambiente e a atuação na área não são ignorados. Pelas credenciais, não parece ter perfil mais adequado para área que deveria ser tão estratégica, embora nunca tenha sido tratada como tal.
Por fim, no Trabalho e Desenvolvimento Social, manteve-se o PDT, com nome igualmente ligado ao deputado André Figueiredo.
CONTINUIDADE
Em duas secretarias, fica claro o direcionamento para a continuidade: na Fazenda e nas Cidades, assumiram os secretários adjuntos dos secretários afastados. Nessas, as mudanças foram feitas para não mudar. Mauro Filho (PSB) e Camilo Santana (PT) pegaram carona numa reforma que não os tinha como alvo.
PARA NÃO INTERROMPER TRABALHO LÁ NA FRENTE, QUEBRA-SE DESDE JÁ
A coluna comentou ontem quão estranho – e extemporâneo – é o argumento das candidaturas para justificar a reforma do secretariado. Igualmente esquisita é a justificativa de evitar a descontinuidade administrativa. Ora, para evitar a quebra de trabalho em abril do ano que vem, Cid Gomes (PSB) o fez desde já. Não dá tempo aos novos nomeados para mostrar trabalho e ainda interrompe, de supetão, o que vinha em curso, para o bem ou para o mal. Caso saíssem em abril, os secretários-candidatos poderiam preparar gradualmente a transição e deixar encaminhado o desfecho dos processos. Da forma como foi, não houve margem para preparativo algum. As mudanças súbitas só fazem sentido diante de áreas que se mostravam críticas e nitidamente vinham dando errado. E aí, para a coisa não ficar tão feia para quem sai, alguns secretários que ficariam acabaram entrando no balaio. Se não fosse para aprimorar a gestão, as substituições não teriam pé nem cabeça.
Fonte: O Povo