NOS ÚLTIMOS 12 MESES - Inflação de Fortaleza para os de menor renda lidera no País
08/11/2013.
Apesar de apresentar recuo na comparação mensal, INPC da Capital cearense atinge 7,31% em outubro e preocupa
Como se não bastasse viver com uma situação financeira constantemente apertada, a população de baixa renda de Fortaleza vem sofrendo ainda mais com a inflação neste ano. Isso porque, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), referente à famílias com rendimentos de um a cinco salários mínimos, a taxa acumulada dos últimos 12 meses atingiu 7,31% em outubro na Capital cearense, sendo esse o maior patamar entre as 11 cidades brasileiras avaliadas pelo IBGE, que desenvolve o indicador. Em setembro, o índice era ainda mais elevado, de 7,83%, e também o mais alto do País.
De acordo com a economista do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Cristina Lima, o peso da inflação é maior entre as famílias de baixa renda porque o grupo de alimentos e bebidas, grandes vilões de 2013, possui um peso maior na cesta dessa parcela da população. "Esses produtos respondem por 35% do INPC de Fortaleza, o que leva o índice inflacionário lá para cima. É uma taxa que preocupa porque compromete bastante a renda dessas pessoas, que já é muito limitada", comenta.
Na variação mensal, a inflação de Fortaleza para os mais pobres avançou 0,48% em outubro, uma alta 0,3% menor do que a registrada em setembro, de 0,51%. No ano, o INPC acumula um avanço de 5,14% na Capital, sendo esse o segundo maior índice do Brasil, atrás apenas de Recife, com 5,42%.
IPCA na Capital
O IBGE também divulgou ontem o resultado do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, que mede a inflação geral para aquele período. Diferentemente do que vinha ocorrendo com frequência ao longo de 2013, Fortaleza não registrou a taxa mais alta do País no acumulado dos últimos 12 meses, tendo em vista que o índice foi de 6,64%, abaixo dos 6,81% de Recife. No acumulado do ano até o mês passado, a Capital apresentou aumento de 4,55% na inflação medida pelo índice, sendo essa a terceira maior taxa do País, atrás de São Paulo (4,64%) e Recife (5,43%). "Mensalmente, a alta da inflação de Fortaleza foi uma das mais baixas do País, tendo registrado incremento de 0,44% em outubro, uma taxa que ficou inclusive abaixo da média nacional para o período, que foi 0,57%. Isso acabou dando uma aliviada na pressão inflacionária da Capital", diz Cristina Lima.
Maiores vilões
O peso do setor de alimentos e bebidas na inflação de Fortaleza fica ainda mais evidente quando são avaliados os itens que mais contribuiram para a taxa. No acumulado dos últimos 12 meses, por exemplo, oito dos 10 produtos que ficaram mais caros na Capital pertencem ao setor. Farinhas, féculas e massas são os maiores vilões, tendo em vista que registraram aumento de 38,34%. "Não somos autossuficientes na produção de trigo, e é bem provável que essa alta esteja diretamente ligada às variações do câmbio neste ano, já que a maior parte do produto é importada”, destaca a especialista.
As frutas em geral também tiveram um peso grande na inflação dos últimos 12 meses de Fortaleza, já que contaram com aumento de 33,95%. Mensalmente, o item que mais influenciou o grupo de alimentos e bebidas foi o frango inteiro (3,37%), seguida de refrigerante (1,77%) e leite longa vida (1,12%). Destacam-se os preços das refeições fora do domicílio que continuam aumentando, como refeição (0,33%) e lanche (0,57%).
"Analisando o comportamento dos preços no mês de outubro dos bens e serviços por grupo e item para a Região Metropolitana de Fortaleza, observou-se que o preço dos vestuários foram os que apresentaram maior variação, com valor de 0,97%, vindo de valores bem inferiores a esse. Tal resultado pode ser explicado em parte, pela alta dos preços de bermuda e short infantil (3,46%), vestido (2,73%) e calça comprida feminina (2,53%)", explica a economista do Ipece.
Tendência de queda
Apesar da inflação de Fortaleza medida pelo IPCA ainda ser elevada, a taxa vem mostrando uma certa tendência de queda. No acumulado dos últimos 12 meses, por exemplo, o índice registrou o quarto recuo seguido, ficando 1,92 ponto percentual abaixo do patamar alcançado em junho deste ano, de 8,56%. "Acredito que essa tendência continue até o fim do ano e ainda arrisco dizer que a inflação da Capital ficará abaixo do teto da meta, de 6,5%", diz Lima.
CE: construir fica 0,80% mais caro
O Índice Nacional da Construção Civil (Sinapi), calculado pelo IBGE em convênio com a Caixa, variou 0,80% em outubro, no Ceará. O resultado foi o maior dentre os nove estados do Nordeste e também ficou acima da média da Região (0,54%) e do Brasil (0,44%). As variações consideram a desoneração da folha de pagamento de empresas do setor da construção civil.
De acordo com o IBGE, o custo médio da construção por metro quadrado no Ceará ficou em R$ 798,39, no mês passado. O custo é o terceiro mais caro do Nordeste, atrás do Maranhão (R$ 836,89) e da Paraíba (R$ 836,48). Na Região, o custo médio ficou em R$ 791,40. Já no Brasil, ficou em R$ 849,07 (sendo R$ 468,27 relativos aos materiais e R$ 380,80 à mão de obra).
No acumulado de janeiro a outubro deste ano, o Sinapi apresenta variação de 1,10% no Ceará, enquanto no Nordeste e no País houve retração do índice, que ficou em -1,77% e -0,77%, respectivamente.
Nacionalmente, de janeiro a outubro, os acumulados estão em 3,19% (materiais) e -5,24% (mão de obra), enquanto em doze meses ficaram em 3,78% (materiais) e -4,53% (mão de obra).
Em 12 meses, o custo da construção subiu 1,49% no Ceará, contrariando, novamente, o movimento de retração registrado no País. Na mesma base de comparação, o Sinapi recuou 0,60% no Nordeste e 0,12% no Brasil.
Mantega vê IPCA como bom resultado
Brasília. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, considerou "um bom resultado" o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 0,57% registrado no mês de outubro. Segundo ele, a taxa ficou abaixo da expectativa do mercado.
"É um IPCA normal para esta época do ano, quando você começa a ter alguns aumentos de alimentos ou produtos que estão na entressafra como carnes. Mas está menor então do que se esperava", disse. "Significa que é um bom resultado e esperamos continuar assim nos próximos meses", avaliou.
De acordo com o IBGE, a variação dos preços em outubro é a maior desde fevereiro deste ano, quando ficou em 0,60%. A maior parte do resultado foi atribuído à alta do custo dos alimentos e das bebidas.
O repasse do câmbio teria sido responsável por puxar para cima os preços desses setores. No ano, o dólar em relação ao real já está 12% mais valorizado.
Apesar de o peso maior ser o do grupo de alimentos em outubro, foi o de vestuário que registrou a maior variação de preços: de 1,13%, após ficar em 0,63% no mês anterior. Dentro desse grupo, as roupas femininas tiveram alta de 1,34% e as masculinas, de 1,28%.
Metas
O IPCA é utilizado pelo governo para definir as metas de inflação. O centro da meta foi estabelecido em 4,5% neste ano. O limite superior chega a 6,5%.
Para analistas do mercado financeiro e investidores, a inflação este ano deve ficar levemente acima do resultado de 2012, quando chegou a 5,84%. Pela projeção de instituições financeiras consultadas pelo Banco Central (BC), na última semana, o IPCA deve chegar a 5,85% em 2013. Para 2014, a inflação deve atingir 5,92%, a mesma projeção anterior.
Áquila Leite – Repórter
Fonte: Jornal Diário do Nordeste