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Publicado em: 11/03/2014

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ANÁLISE INTERNACIONAL - Nova crise na Argentina... E o Brasil com isso?

11/03/2014.

O país mais austral da América do Sul tem se tornado sinônimo de desastre econômico, notadamente pelas desvalorizações da moeda ao longo dos últimos anos

João Bosco Monte

Pós-doutorado em Relações Internacionais e Presidente do Instituto Brasil África

A Argentina sempre foi conhecida como um importante polo cultural, com seus belos museus e as inúmeras galerias de arte, além de sua vigorosa agenda teatral. Mas, desafortunadamente o país mais austral da América do Sul tem se tornado sinônimo de desastre econômico, notadamente pelas desvalorizações da moeda ao longo dos últimos anos o que parece uma situação patológica porque se repete desde que praticamente o pais é reconhecido como nação.

Da mesma forma que outros países, a Argentina se integrou na economia global durante o século XIX graças à abertura comercial, à livre circulação de capitais e à estabilidade monetária que impunha o padrão vigente. O resultado foi favorável para o país, trazendo prosperidade de forma substancial até 1930, atraindo um grande volume de investimento estrangeiro e capital humano, formado na sua maioria por imigrantes.

Mas, o “destino” parece não ter sido tão dadivoso com a Argentina e na última década do século XX se deparou com um período de profunda transformação social e político-cultural, que mostrou uma sociedade mais pobre (e fundamentalmente, mais desigual) e um Estado mais subordinado ao poder exterior. O resultado é que a estrutura social se modificou e tornou-se mais complexa, mostrando de forma clara a debilidade dos governos de oferecer uma base de apoio social para a sociedade. Em recente pronunciamento Luis Etchevehere, presidente da Sociedade Rural Argentina, em tom de desabafo afirmou que “a Argentina de hoje é um país imensamente rico, mas cheio de pobres”.

O que se percebe é que nos últimos dez anos, a Argentina se comportou como o personagem da parábola do filho pródigo que recebe sua herança e no lugar de investir os recursos em alguma atividade que gere rendimentos, dilapida a fortuna em viagens, festas e outras excentricidades. E como consequência, ao acabar toda a herança, entra em bancarrota. Essa é a realidade atual na Argentina.

A falta de investimento em setores fundamentais como a energia, o congelamento das tarifas, obras e serviços públicos e uma gigantesca rede de assistencialismo sem contrapartidas e subsídios de todo tipo destinados a baratear os preços de bens e serviços de maior consumo popular, são fatores que ajudem a aumentar a crise.

Por outro lado, o país não aproveita os bons preços internacionais dos produtos de exportação, as baixas taxas de juros no mundo e o crescimento mundial e consequentemente a atração investimentos competitivos.

O maior problema talvez para o governo de Cristina Kirchner, entretanto, são as sucessivas medidas desastrosas emanadas da Casa Rosada, como as apresentadas recentemente: desvalorização do peso e maior controle para a compra da moeda norte americana. Não é preciso fazer grande esforço para entender que tais procedimentos não são suficientes para resolver os problemas econômicos da Argentina, que enfrenta um delicado panorama num contexto de falta de confiança.

O cenário atual é parecido ao de 2001, quando a inflação em alta, com relevante perda do poder aquisitivo, mais agitação social e muitas greves fizeram com que Fernando de la Rúa renunciasse ao cargo de presidente da república.

Assim, a perspectiva é a tendência de aumento e aprofundamento dos problemas sociais (desemprego, altos índices de criminalidade, saques...) o que tem resultado em manifestações contra a vulnerabilidade social expressada na corrente de degradação das condições trabalhistas, a precarização do trabalho.

No meio de toda esta crise por que passa a Argentina, cabe uma pergunta. O Brasil pode ser afetado pelo que acontece nos país vizinho? Ao longo da última década, o Brasil aumentou significativamente suas reservas cambiais, alcançando atualmente a cifra superior a 350 bilhões de dólares, mais de nove vezes o que tinha sido durante a crise argentina de 2001 e 2002. Isso significa que o governo brasileiro tem mais espaço para agir contra quaisquer deslizes perigosos resultantes da turbulência da Argentina.

Por outro lado, é importante lembrar que as relações econômicas entre os dois países são muito significativas, principalmente pela participação em setores estratégicos na Argentina de empresas brasileiras, como: Petrobras (energia), Camargo Correa (construção), Friboi (Alimentos), AmBev (bebidas) Belgo Mineira (ferro e aço) e Banco Itaú (financeira).

Além disso, deve-se destacar que a Argentina é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. É o terceiro maior destino de exportação, o primeiro destino das exportações industriais (20% do total) e a terceira fonte de importações (atrás dos EUA e da China).

O Brasil não é – e falta muito – um exemplo absoluto de superação de crise econômica, mas já passou por situação parecida à vivida pela Argentina, e tem condições de atuar de forma prática para ajudar à nação vizinha a atravessar esta crise evitando que os danos sejam ainda maiores.

É necessário e imperativo, portanto um diálogo objetivo entre Brasília e Buenos Aires e que acima de tudo sejam efetivadas ações por parte do governo brasileiro a fim de defender os melhores interesses do Brasil.

 

Fonte: O Povo Online (Jornal O Povo)